O tempo não tem Ser, posto que o futuro ainda não o é, que o passado não é mais, e o presente não permanece. O texto é o filho pródigo que jamais retorna.
9 de mai. de 2010
Mãe é tudo de bom.
25 de abr. de 2010
Um pouco mais de mitologia - O Minotauro
Desde que tive aquela aula maravilhosa com o professor mestre Eduardo Brefore, a mitologia grega tem sido um adorável passatempo. Tenho a impressão de parecer uma criança escutando historinhas como Chapéuzinho Vermelho ou O Mágico de OZ. Acho que é quase isso.
17 de abr. de 2010
Injeção cultural
2 de abr. de 2010
Hélio Oiticica - Antiarte por exelência
Tem como p´re-requisito a incursão do visitante, ou seja, os ambientes coloridos só funcionam com a presença do espectador.
28 de mar. de 2010
Andy Wahrol - Pinacotéca

Marc Chagall -O expoente da gravura - no MASP

Marc Chagall: nascido em 1887, na Rússia, de início aprendeu técnicas de pintura retratista num atelier, Vai à Paris e se encanta com a diversidade de cores dos pintores modernistas parisienses, vivem o período conhecido como Bella Époque, antes da Primeira Grande Guerra, onde se acreditava que a pujança e o consumo capitalista crescente, oriundo da II Revolução Industrial, nunca teria fim. Fica em contato com esses artistas, mas, foi de Guillaume Appolinaire que se tornou grande amigo.
Neste período pinta um de seus quadros mais famosos "Eu e a aldeia" e "O soldado Bebé".
Quando acontece a primeira guerra mundial, Marc tem de regressar a Rússia, pois, é mobilizado para as fronteiras. Casa-se
Após a Revolução Socialista foi nomeado Comissário para as Belas Artes, inaugurando uma escola de artes aberta a qualquer tendência modernista (não podemos esquecer que a ideologia socialista baseava-se no construtivismo, onde o artista é o operário), sendo assim, entra em conflito com Kasimir Malevich ( propunha um novo movimento intitulado Suprematismo - figuras geométricas - que seria a ruptura consciente dos artistas russos com a Europa e a afirmação de uma escola russa independente) e demite-se do cargo.
Volta à Paris e obtém sucesso pintando a capa de uma Bíblia e As Fábulas de
Visitou a Síiria e a Palestina em 1931 ficando bastante impressionado com a cultura de lá.
Desde 1935, com a volta da guerra, Chagall pinta as tensões e repressões sociais e religiosas, que também sentia na pele, por ser judeu convicto. Anos mais tarde parte para os EUA fugindo das perseguições de Hitler.
No final da guerra sua esposa falece, fato que lhe causa grande depressão, mergulhando novamente no mundo das evocações, dos chamamentos, das sombras. Concluiu neste período um quadro que havia iniciado em 1931, chamado "Em torno dela" .
Durante a primeira guerra(1914- 1918), artistas e intelectuais de diversas nacionalidades, contrários ao envolvimento de seus países no conflito, exilaram-se em Zurique , Suíça , e fundaram um movimento literário que deveria expressar suas decepções com o fracasso da ciência, religião e filosofia existentes até então, pois, revelaram-se incapazes de evitar a grande destruição que assolava toda a Europa.
Esse movimento foi chamado "DADÁ" que pretendia demonstrar que a arte perdia o sentido, já que a guerra instaurou o irracionalismo no Continente europeu. É preciso considerar também que os estudos de Freud chamavam atenção para um aspecto novo da realidade humana. Revelavam esses estudos que muitos atos praticados pelos homens são automáticos e independentes de um encadeamento de razões lógicas.
Desta forma os dadaístas propunham que a criação artística se libertasse das amarras do pensamento racionalista e sugeriram que a arte fosse apenas o resultado do automatismo psíquico, selecionando e combinando elementos ao acaso.
Na pintura essa atitude foi traduzida por obras que usaram o recurso da colagem. Só que agora a intenção não é prática e sim sátira e crítica aos valores tradicionais , tão valorizados, mas, responsáveis pelo caos que se encontrava a Europa.
O automatismo psicológico do dadaísmo propiciou o aparecimento do surrealismo, surgem obras que nada devem a razão , à moral ou as próprias preocupações estéticas. Portanto, a obra de arte são manifestações do subconsciente, absurdas, ilógicas, como as imagens dos sonhos e das alucinações, que produzem as criações artísticas mais interessantes. As vezes as obras surrealistas representam alguns aspectos da realidade ou excesso de realismo, entretanto, eles aparecem sempre associados a elementos inexistentes na natureza, criando conjuntos irreais.
A pintura surrealista desenvolveu duas tendências: Figurativa (Salvador Dali - Marc Chagall) e a Abstrata (Joan Miró - Max Ernest)
27 de mar. de 2010
Férias Merecidas
17 de mar. de 2010
Dionísio ou Baco
14 de mar. de 2010
Mitologia Grega
25 de fev. de 2010
Uma nova igualdade depois da crise, por Eric Hobsbawm

12 de fev. de 2010
60 anos de Chico Buarque

Como sou fã incondicional do meu amado Chiquinho, peguei um texto super bem escrito, do jornalista Ruy Castro, sobre os 60 anos deste magnífico artista.
10 de fev. de 2010
Ressignificações da História
Como parte do processo de ensino, o historiador atual deve tomar cuidado para não deixar transparecer sua posições sobre os acontecimentos, mas há fatos que não dá para serem ignorados.
Após o Brasil se tornar um estado independente e monárquico, a escola era um lugar destinado a ler, escrever e contar. Os professores da escola elementar deviam, segundo os planos de estudos propostos em 1827, ultilizar, para o ensino da leitura, entre outros textos, "a Constituição do Império e História do Brasil", com objetivo de exercitar a leitura e inserir nos meninos o espírito de aventura dos grandes heróis e o senso moral por meio de deveres com a Pátria e seus governantes. Sem esquecer que neste período a História do Brasil estava vinculada a Europa, descoberta por portugueses, branco, de olhos claros, sendo a história indígena descartada completamente, como se no Brasil a história começasse à partir do seu descobrimento.
Os conteúdos passaram a ser elaborados para construir uma idéia de nação associada à pátria , integradas como eixo indissolúvel.
Nas escolas, o ensino de História Sagrada fazia parte de doutrina religiosa, sendo ela mais difundida que a história laica, mesmo após a separação da igreja com o Estado.
A moral cívica vinculava-se a moral religiosa.
Educadores defendiam como modelo pedagógico a narração da vida dos santos e heróis profanos, de nome História biográfica.
Com a abolição da escravatura , no final da década de 80 do século XIX, o aumento populacional proveniente do intensificado processo de imigração e urbanização ampliaram os debates políticos sobre a concepção de cidadania; havia a necessidade do aumento de número de imigrantes que deveriam gostar da "nova terra" e atrair mais imigrantes, assim os direitos sociais e civis foram estendidos a um número cada vez maior de pessoas.
A escola ganha um novo destaque pela necessidade de aumentar o números de alfabetizados, condição fundamental para aquisição da cidadania política.
O aumento de alunos filhos de imigrantes levou os programas curriculares a sedimentar uma identidade nacional por meio da homogeneização da cultura escolar.
O foco era imitar a história européia visando a modernidade por meio da obediência a hierarquia, sem contudo, incluir nos programas curriculares a participação deles na construção histórica da Nação.
O fortalecimento do sentimento nacionalista, fez surgir as "inveções de tradições" (Eric Hobsbawn) , semelhante ao que ocorreu na Europa, os símbolos que representam o país como bandeiras (ver neste mesmo blog "A cremação das bandeiras), Hinos, o sentimeno patriótico são exemplos disso.
Acentuada principalmente durante o Estado Novo (olha ele de novo) de Vargas, o nacionalismo se torna uma doutrina e buscando raízes na própria terra, desvinculando-se da História européia, o mestiço, a feijoada, o samba, passam a ser referências do Brasil (ver neste mesmo blog Saudosa Maloca).
Grupos anarquistas que lideravam os grupos operários em suas lutas por direitos trabalhistas criaram em várias cidades, as Escolas Modernas em que o ensino se voltava contra a exarcebação do patriotismo e o culto a pátria, os quais entre outros propósitos incentivava e justificava o militarismo e as guerras. Vargas, sabendo do perigo que isso poderia representar para seu projeto de Estado Novo, disciplinador e nacionalista, fechou todas essas escolas e fundou o Ministério da Educação, organizando o sistema escolar de maneira centralizada e os conteúdos obedecendo normas mais rigorosas e gerais.
À partir daí a história ensinava o culto aos grandes heróis nacionais sendo Tiradentes o herói máximo.
28 de jan. de 2010
O Correio Braziliense na Imprensa do Brasil

Nos fins do século XVIII inicia-se o surgimento de bibliotecas particulares, mesmo sabendo que era um ato de crime, estudantes que iam para Europa, traziam livros de forma clandestina e perigosa. Com essa prática o volume de livros comercializados aumenta e faz surgir obras heterodoxas como Montesquie, coleção das Leis dos EUA, A Revolução (de Volney), Dicionário Filosófico(de Voltaire), entre outros.
Quase todos os livreiros de Lisboa eram franceses e fundavam casas (tipo cafés) pondo em circulação todas as publicações modernas. Houve um livreiro que introduziu mais de doze mil exemplares da Constituição Francesa em Portugal.
Papeis, revistas e livros circulavam no país por meio de marinheiros ingleses que traziam pelo cais.
No Brasil, os livros eram vistos com extrema desconfiança, só natural nas mãos de religiosos, bibliotecas apenas em mosteiros e colégios.
Com a Abertura dos Portos em 1808, por ordem da Corte Real que chegara naquele ano, os livros passaram a entrar em maior volume, mesmo com uma maior vigilância em relação aos livros que entravam pelo cais.
O Brasil não tinha universidades e era um dos únicos no mundo, exceto a África e a Ásia que não produzia a palavra impressa e uma das poucas tentativas esbarrava na intransigência das autoridades portuguesas. O escravismo dominante era avesso a cultura. Antes de 1808 houveram duas tentativas de se implantar tipografias para impressão, mas foram abafadas pela Corte, que temia ideias contrárias a Monarquia. O problema é que neste período na Europa, as ideias liberalistas já tomavam conta de vários países como EUA, e França.
Portugal como Pais monárquico não convinha o liberalismo , pois entraria em choque direto com a legitimidade dos reis A ignorância era necessária ao colonizador.
As mudanças ocorrem com a chegada da Família Real, que promoveu a Abertura dos Portos fazendo o comércio florecer.
Como a França havia invadido Portugal, a necessidade de sobrevivência da Corte em território brasileiro levou a criação de uma indústria de base como fábricas de pólvora, ferro e vidro e a necessidade de mostrar os Atos de Governo e notícias interessantes a colônia, logo após a chegada do Rei , se implanta a imprensa régia.
Neste contexto surge o Correio Braziliense.
Hipólito José a Costa Mendonça Furtado, nascido em 1764 na colonia de Sacramento, na Cisplatina, crescera no Rio Grande do Sul, em Pelotas, oriundo de familia rica.
Como todos os jovens da elite, partira para Coimbra para estudar, formando-se em 1794, então com 30 anos.
Em 1798, fora aos Estados Unidos em missão especial do governo português para escolher sementes e espionar os avanços tecnológicos. Morou lá por 2 anos e pode ver com os próprios olhos uma sociedade organizada, com universidades e um processo eleitoral adiantado.
Volta a Lisboa em 1800 como funcionário de Imprensa Régia, responsável pela publicação de livros de técnicas e economia. Paralelo ao seu trabalho, se envolvia mais ainda com a maçonaria portuguesa. Uma viagem especial a Londres o poria em contato com a maçonaria inglesa, até então a mais forte e importante do mundo, da qual eram membros os filhos do Rei Jorge III, e de um deles (Conde de Sussex- Augusto Frederico) Hipólito se torna grande amigo.
Foi por conta desses contatos novos que fez em Londres que logo depois de chegar a Portugal, é preso pelo Santo Ofício, só conseguindo a liberdade quando foge da prisão em 1805.
Com a chegada da Família Real, que fugia da perseguição napoleônica aos Reis, Hipólito viu a oportunidade da colônia crescer, e buscando esse crescimento cria a palavra impressa e livre de censura, tal como vira nas países europeus.
Observou que na Inglaterra a monarquia constitucional era um fato, onde o parlamento, realmente limitava o poder do rei, onde a imprensa era livre e por ser amigo do Conde de Sussex, sentia-se à vontade para criticar a administração portuguesa como nenhum outro português ousaria fazer.
Esses fatos o motivaram a publicar em Londres, no dia 1° de Junho de 1808, o Correio Braziliense ou Armazém Literário.
Numa época em que o acesso a educação era restrito, a imprensa se firmava como difusor de novas ideias. O jornalista se confundia com educador.
Na Miscelânea havia as Reflexões do Mês, que ao serem resenhadas incluíam suas observações e críticas, e foi neste espaço que, de forma organizada e consistente, pensa em seu projeto para o Brasil, por isso, tanto para a história da imprensa, quanto para a história do Brasil, é a parte mais importante do Correio.
A maior parte do jornal era dedicada a publicações de documentos de acontecimentos mundiais, além de notícias que ele recolhia nas Gazetas internacionais.
Com a vinda da Corte e uma maior circulação de ideias, paralelo a ascensão da burguesia, as conversas políticas com relação a monarquia aumentaram.
Entre os historiadores há uma polêmica no que diz respeito a sua influência nas mentalidades brasileiras e quanto a ser o primeiro periódico no Brasil.
Não podemos esquecer que Hipólito era filhos de estancieiros ricos do Sul, portanto fazia parte de uma elite agrária ; era à favor de uma Monarquia Parlamentar, como na Inglaterra, e não da República, assim sendo, apoiou a escravidão, ficou ao lado da Corte quando Portugal tentou recolonizar o Brasil, mas em compensação, apesar de não ser produzido no país, o Jornal foi o único que conseguiu apontar as falhas na administração brasileira.
O termo correto seria periódico, pois se parecia mais como uma revista mensal do que com um jornal.
Quem mais se assemelhava a um jornal era a Gazeta do Rio de Janeiro, fundada em 10 de Dezembro de 1808, "irmã" da Gazeta de Lisboa.
Desnecessário dizer que se tratava da imprensa régia trazendo decretos, fatos relacionados com a Família Real, noticiário internacional, filtrado pela censura, sua periodicidade era curta, intensão informativa, poucas falas e preço baixo.
Nelson Werneck Sodré, autor de várias obras indispensáveis para quem quer entender a imprensa, diz que "nada tem de extraordinário o aparecimento do Correio Braziliense, pois sua influência foi relativa na medida em que sua forma de fazer imprensa era inadequada dentro do contexto político-social que o Brasil se encontrava; era pouco lido (mais repassado boca-a-boca) e quando surge as condições adequadas para o aparecimento da imprensa, o Correio perde a razão de ser, a elite da qual Hipólito fazia parte, aceitou a Independência e o Correio deixa de circular". É difícil considerá-lo como Imprensa Brasileira, uma vez que eram produzidos em Londres e a única condição pra isso é o fato de visarem as pessoas influentes do Brasil. Seu objetivo era atingir ao Brasil como público leitor, mas o fato de sua produção ser em Londres esclarece a dificuldade de condições políticas para se estabelecer a imprensa".
Quando ocorre a Revolução o Porto e obriga o Rei a regressar, ameaçado de perder a Coroa, inicia-se várias medidas legais para tornar o Brasil novamente dependente de Portugal, então Hipólito passa a ser completamente contrário a ideia, torna-se novamente oposição e inicia um diálogo entre o Correio e os liberais do Brasil.
"A elite colonial não queria a imprensa por temer a independência ou para não interferir num sistema econômico já vigente e cômodo. A conquista anterior fica em perigo e o perigo une; para unir é preciso mobilizar e para isso é necessário despertar opiniões, e para despertar opiniões é preciso a imprensa." ( Nelson Werneck Sodré)
A partir de 1821 a Gazeta passa a defender o liberalismo e a modernidade política, posiciona-se a favor da Independência antes do Correio que levava desvantagem pela distância e pela demora do periódico.
O jornal que foi fundado em 1° de Junho de 1808, publica seu último exemplar em Novembro de 1822. Teve 175 números editados, no total.
Hipólito morre em 11 de Setembro de 1823 de infecção intestinal, na época Cônsul Geral do Brasil.
Para a elite da qual ele fazia parte, a monarquia era cômoda, então Hipólito era somente contra a administração, não contra a monarquia. Quando o livre comércio se vê em risco, subjugado à metrópole, deixa sua postura monarquista e mesmo contra seus princípios apoia a Independência. Quando esta surge, o jornal deixa a razão de ser.
O que fica de legado do Correio Braziliense, e talvez o maior legado, é a riqueza de detalhes que o jornal conta em cada exemplar.
Para os historiadores é a riqueza de detalhes dos textos e documentos que nos dá condições reais de estudarmos a época e seus acontecimentos.
20 de jan. de 2010
Cremação das Bandeiras - Este é Getúlio Vargas
Certeau argumenta que esta é uma omissão perigosa, pois na atividade do re-uso encontra-se uma abundância de oportunidades para pessoas comuns subverterem os rituais e representações que as instituições buscam impor sobre eles.
11 de jan. de 2010
Saudosa Maloca - São Paulo de Adoniran Barbosa.

Em 1950 o então presidente da República Getúlio Vargas faz do período o resgate da cultura popular urbana no momento em que a rádio se projetava como meio de comunicação em massa, espaço de reprodução e divulgação dessa "nova cultura". A rádio é um fenômeno social no Brasil, assim como no mundo ocidentalizado.
O Estado Novo varguista absorvia a música e a folia popular, garantia os trilhos e exigia que se andasse na linha, era um Estado disciplinador e musical, assim Villa Lobos regia as crianças durante festejos cívicos, impunha contar a grandiosidade e as coisas belas; o samba exaltação, cujo melhor exemplo foi Aquarela do Brasil de Ari Barroso, um exemplo claro de interiorização desta ditadura pelos artistas.
"Os meios de comunicação de massas funcionam como uma espécie de espelho de identificação dos grupos para os quais eles se projetam" (Michel Maffesoli).
Sob forte influência dos arranjos do jazz ( para entender bem os acontecimentos, sugiro a leitura, neste mesmo blog das Mudanças Culturais na I e II Guerra Mundial), Villa Lobos divulgava seu estilo musical cantando em acordes e letras, as belezas do Brasil.
No âmbito da história mais recente, fez-se um corte radical entre o velho Brasil desunido, dominado por latifúndios e oligarquias e o Brasil que nasce com a Revolução. O Estado Novo teria realizado os objetivos revolucionários, promovendo atravéz da busca de novas raízes, da integração nacional, de uma ordem não dilacerada pelas disputas partidárias, a entrada do pais em tempos modernos, ou seja, a Revolução de 30 e a consolidação de seus propósitos, passaram a ser simbolizados como marco zero do nosso devir histórico.
Era a cultura mestiça que nos anos 30 despontava como representação oficial da Nação.
Como todo nacionalismo, cria-se símbolos ambivalentes onde interesses privados assumem sentidos públicos. Exemplo do mestiço usado como símbolo da Nação está a feijoada e o samba, que passa a ser exaltado como expressão de brasilidade. Basta lembrar que o Samba-Enredo foi oficializado em 1935 e em 1937 , obrigatóriamente o tema deveria ser histórico.
Para José Murillo de Carvalho "Nunca um governo adotou uma postura oficial da valorização do popular sobre o erudito, do povo sobre a elite. O modelo de Brasil não estava mais na Europa, mas em nossa própria história, nossas tradições, nosso povo e patrimônio".
Interessante pensar que este nacionalismo, visando a propaganda, foi desenvolvido pelo nazifascismo europeu e recuperado por Vargas e Perón (que chegaram a ser considerados fascistas). Este método legitimava-se pela tentativa de reformular mecanismos de controle social considerados inadequados para os novos tempos, canalizando as massas na direção imposta pelo novo regime; o temor a oposição acaba com a pluralidade da vida social, como experiência democrática e impõe a construção de uma sociedade unida e harmônica (Maria Helena Capelato).
No período do Regime Militar, mais especificamente no governo de Faria Lima, São Paulo torna-se a sede do milagre brasileiro. Para quem não se lembra, devido a Guerra Fria entre Estados Unidos e URSS, os americanos emprestavam dinheiro à rodo para os paises que se desenvolviam economicamente, visando introduzir suas multinacionais e manter os paises amarrados a sua disciplina, evitando a entrada do comunismo. O período ficou conhecido como o milagre econômico, pois fortíssimos investimentos eram aplicados no pais com novas indústrias e construções, porém gerou, anos mais tarde, uma inflação monstruosa que deixou o pais individado por até pouco tempo atrás.
O perfil paulistano da "gente laboriosa" e "cidade que não pode parar", trás um sentido de Nação, como se as projeções da cidade fossem modelo de Nação e a verticalização de São Paulo também torna-se traço dessa característica. A imagem de "cidade do progresso" fundamenta tanto o caráter congratulatório, como constrói a identidade sua e de seus habitantes. O tempo é medido pelo trabalho, onde um intervalo menor produz cada vez mais, portanto, o jeito de ser paulistano é tecido pela lógica trabalho/ produção = pressa.
Quando o passado é encenado num ato, como uma atividade cultural, as lembranças que esse ato evoca assumem o caráter de tradição cultural e neste alimentam a memória social inserindo-se nas cerimônias comemorativas. Neste contexto, o meio usado foram as comemorações do IV Centenário da cidade.
Como lembra Michel Certeau "Em nossa sociedade ausência de trabalho significa absurdo; deve-se eliminá-la para que prossiga o discurso que incansávelmente articula as tarefas e constrói o relato ocidental do " há sempre alguma coisa a fazer".
Em 1950 fabricava-se quase tudo em Sampa, o que levou a uma migração em massa de nordestinos para a cidade, principalmente para trabalharem na construção civil, basta saber que de 1940 a 1960 a cidade tanto em habitantes quanto em construção e cultura cresceu o dobro.
Os imigrantes italianos que já estavam aqui há algumas gerações, conseguiam estudar e se tornar pequenos e médios empresários, já os negros, apesar de uma leve melhora na condição social, ainda eram vistos amalgamados a escravidão, com oportunidades reais, mas remotas de ascenção econômica. As mulheres , antes à margem da economia, agora se encontravam em fábricas ou como costureiras ou ainda manicures, inseridas no operariádo paulistano.
As contradições eram vistas na periferia , onde antes moradores do centro bem servidos de equipamentos urbanos, agora se encontravam na região periférica da cidade em lotes sem água, sem luz e com ruas intransitáveis, empurrados pelo crescimento economico, que exigia maior espaço do centro econômico e comercial, colocando o próprio operariádo à margem da cidade. Nascia a periferia.
Adoniran, o artista
Filho de imigrantes italianos, João Rubinato nasceu em Valinhos em 1910 e no início dos anos 30 se muda para São Paulo. Trabalhou em várias empresas, como operário, garçon, mecânico, mas problemas pulmonares o afastaram. Cresceu nas ruas da cidade ouvindo vozes, sotaques e jeitos das pessoas com quem se relacionava.
Sua poética está justamente na inventabilidade de um certo jeito de ser paulistano. Sob pseudônimo de Adoniram Barbosa o artista se inicia como radioator e compositor de inúmeros sambas. Por 10 anos trabalhou na radioteca de Record, cujo seu personagem era Charutinho no programa Histórias das Malocas. Produz uma instigante crônica da cidade , busca retratá-la no instante em que o processo de industrialização e a formação de uma sociedade de massas se intensifica no pais e o cenário paulistano é o símbolo desta transformação.
Segundo Hannah Arendt, o conceito de biografia é a história da vida que integra o conjunto de atos e palavras de uma pessoa, então a história de vida de Adoniran se confunde com sua obra.
A pessoa de João Rubinato narra o que o artista Adoniran vê nas mudanças da metróple, e fala por seu grupo, na visão dos excluídos, então, apesar de parecer antigo é moderno, pois trata-se de vozes de pessoas que se identificam com a São Paulo em algum período da história. O artista foi considerado por críticos como verdadeiro "retratista do cotidiano"e seu personagem Charutinho, no programa, se mostra o avesso do discurso oficial autocongratulatório que legitimava "nossa gente laboriosa".
O espaço da metrópole reflete o presente construtivista e produtivo, assim, a paisagem urbana se concebe num espaço homogêneo e rápido de circulação. O individual, qualitativo e heterogêneo são excluídos do espaço urbano, assim essse espaço não se oferece como suporte do passado, pois está voltado para o futuro.
"A fusão de Adoniran com os Demônios da Garoa e a percepção dos sons das ruas da cidade deu a obra a fotografia de Adoniran. Uma obra não é somente descritiva, é refletiva também, cheia de idéias sui generis de observação e de conclusões que ficam à beira da trajédia ou da comédia" (Zuza Homem de Melo).
Um artista inventa, antes e mais nada, sua própria personalidade, e ao fazer isso, Adoniran exprime toda a realidade paulistana numa polifonia de vozes.
Em Sampa, a sátira era social e não política como no Rio de Janeiro.
A Record queria atingir as camadas populares e Histórias das Malocas era como se fosse novela, com seu público fiél. O programa de rádio ironizava valores da ordem burguesa, permeado por um idealismo romântico. De um lado a metáfora do trabalho, da opressão, do peso de uma vida regrada pelo positivismo e de outro lado como metáfora do ócio, da liberdade, configurando-se como oposição aos padróes instituídos. Uma microresistência.
Se pensarmos que no momento a cultura dominante promete as benesses da sociedade de consumo e portanto da abundância, a maloca representa, antes de mais nada, o contraste visível e concreto a essa civilização moderna.
"Maloca onde a riqueza é...um jacá de vaziesa..., uma cesta de fome...e um pacote de gemido" (trecho do programa)
Para a autora Mirian Goldfeder "a favela é o último reduto da solidariedade social, ao mesmo tempo em que se cria um espaço para a discussão do antitrabalhismo, filosofia básica assumida por seus habitantes". Uma reflexão própria; será que esse (pré) conceito não ajuda a legitimar o mito que na favela só tem vagabundo ?
A valorização de uma microsociedade, de suas formas e valores romperia com as regras definidas pela ética dominante. Em seu fazer artístico a escrita ou as letras institucionalizadas não são relevantes, na medida que um cancionista produz a fala ao canto, mas não podendo prescindir a cultura oral, das representações do mundo que entre outros suportes, fixam em narrativas orais.
Noel Rosa disse, "O samba não se aprende em escolas como reprodução de conhecimento (uma alusão as escolas tradicionais). Ele é sentido. Quem vai a escola de samba não busca o que já não possua. O samba habita aquele que o deseja, não nasce nem no morro nem na cidade"
Certeau e Giard dizem que " devemos considerar a cultura como ela é praticada, não naquilo que é valorizado pela representação oficial, é a oralidade que junto com a criatividade, prática e os atos da vida cotidiana que a sustentam e a organizam. Isto é cultura popular, uma (re)apropriação da ordem dominante".
Dentre as várias músicas de Adoniran que fizeram sucesso está: Saudosa Maloca, Trem das Onze, Iracema, Samba do Arnesto, Um samba no bexiga (esse samba deixa claro as raíses italianas do bairro, quando fala de um bate boca que aconteceu no bar em que "voava a pizza junto com as bracholas"), todas deixam claro o momento em que a música quer retratar, e o grupo social predominante que o artista pertence.
Em minhas pesquisas sobre história cultural, me deparei com uma frase de Michel Foucault em que ele diz; "A representação social não é uma cópia do real, mas uma construção feita à partir dela".
Acho que esta frase consegue explicar com exatidão como entender a representação social.
Aqui o link de Adoniran e Elis Regina cantando em um bar no bairro do Bexiga em 1978.