25 de fev. de 2010

Uma nova igualdade depois da crise, por Eric Hobsbawm


Como este blog é referente a artigos históricos, achei um texto muito interessante do historiador Eric Hobsbawm sobre o século XX. Vale a pena conferir.


O "Século Breve", o 20, foi um período marcado por um conflito religioso entre ideologias laicas. Por razões mais históricas do que lógicas, ele foi dominado pela contraposição de dois modelos econômicos – e apenas dois modelos exclusivos entre si – o "Socialismo", identificado com economias de planejamento central de tipo soviético, e o "Capitalismo", que cobria todo o resto.


Essa contraposição aparentemente fundamental entre um sistema que ambiciona tirar do meio do caminho as empresas privadas interessadas nos lucros (o mercado, por exemplo) e um que pretendia libertar o mercado de toda restrição oficial ou de outro tipo nunca foi realista. Todas as economias modernas devem combinar público e privado de vários modos e em vários graus, e de fato fazem isso. Ambas as tentativas de viver à altura da lógica totalmente binária dessas definições de "capitalismo" e "socialismo" faliram. As economias de tipo soviético e as organizações e gestões estatais sobreviveram aos anos 80. O "fundamentalismo de mercado" anglo-americano quebrou em 2008, no momento do seu apogeu. O Século 21 deverá reconsiderar, portanto, os seus próprios problemas em termos muito mais realistas.


Como tudo isso influi sobre países que no passado eram devotados ao modelo "socialista"? Sob o socialismo, haviam reencontrado a impossibilidade de reformar os seus sistemas administrativos de planejamento estatal, mesmo que os seus técnicos e os seus economistas estivessem plenamente conscientes das suas principais carências. Os sistemas – não competitivos em nível internacional – foram capazes de sobreviver até que pudessem continuar completamente isolados do resto da economia mundial.


Esse isolamento, porém, não pôde ser mantido no tempo, e, quando o socialismo foi abandonado – seja em seguida à queda dos regimes políticos como na Europa, seja pelo próprio regime, como na China ou no Vietnã – estes, sem nenhum pré-aviso, se encontraram imersos naquela que para muitos pareceu ser a única alternativa disponível: o capitalismo globalizado, na sua forma então predominante de capitalismo de livre mercado.


As consequências diretas na Europa foram catastróficas. Os países da ex-União Soviética ainda não superaram as suas repercussões. A China, para sua sorte, escolheu um modelo capitalista diferente do neoliberalismo anglo-americano, preferindo o modelo muito mais dirigista das "economias tigres" ou de assalto da Ásia oriental, mas abriu caminho para o seu "gigantesco salto econômico para frente" com muito pouca preocupação e consideração pelas implicações sociais e humanas.


Esse período está quase às nossas costas, assim como o predomínio global do liberalismo econômico extremo de matriz anglo-americana, mesmo que não saibamos ainda quais mudanças a crise econômica mundial em curso implicará – a mais grave desde os anos 30 –, quando os impressionantes acontecimentos dos últimos dois anos conseguirão se superar. Uma coisa, porém, é desde já muito clara: está em curso uma alternância de enormes proporções das velhas economias do Atlântico Norte ao Sul do planeta e principalmente à Ásia oriental.


Nessas circunstâncias, os ex-Estados soviéticos (incluindo aqueles ainda governados por partidos comunistas) estão tendo que enfrentar problemas e perspectivas muito diferentes. Excluindo de partida as divergências de alinhamento político, direi apenas que a maior parte deles continua relativamente frágil. Na Europa, alguns estão assimilando o modelo social-capitalista da Europa ocidental, mesmo que tenham um lucro médio per capita consideravelmente inferior. Na União Europeia, também é provável prever o aparecimento de uma dupla economia. A Rússia, recuperada em certa medida da catástrofe dos anos 90, está quase reduzida a um país exportador, poderoso, mas vulnerável, de produtos primários e de energia e foi até agora incapaz de reconstruir uma base econômica mais bem balanceada.


As reações contra os excessos da era neoliberal levaram a um retorno, parcial, a formas de capitalismo estatal acompanhadas por uma espécie de regressão a alguns aspectos da herança soviética. Claramente, a simples "imitação do Ocidente" deixou de ser uma opção possível. Esse fenômeno ainda é mais evidente na China, que desenvolveu com considerável sucesso um capitalismo pós-comunista próprio, a tal ponto que, no futuro, pode também ocorrer que os historiadores possam ver nesse país o verdadeiro salvador da economia capitalista mundial na crise em que nos encontramos atualmente. Em síntese, não é mais possível acreditar em uma única forma global de capitalismo ou de pós-capitalismo.


Em todo caso, delinear a economia do amanhã é talvez a parte menos relevante das nossas preocupações futuras. A diferença crucial entre os sistemas econômicos não reside na sua estrutura, mas sim na suas prioridades sociais e morais, e estas deveriam, portanto, ser o argumento principal do nosso debate. Permitam-me, por isso, a esse ilustrar dois de seus aspectos de fundamental importância a esse propósito.


O primeiro é que o fim do Comunismo comportou o desaparecimento repentino de valores, hábitos e práticas sociais que haviam marcado a vida de gerações inteiras, não apenas as dos regimes comunistas em estrito senso, mas também as do passado pré-comunista que, sob esses regimes, havia em boa parte se protegido. Devemos reconhecer quanto foram profundos e graves o choque e a desgraça em termos humanos que foram verificados em consequência desse brusco e inesperado terremoto social. Inevitavelmente, serão necessárias diversas décadas antes que as sociedades pós-comunistas encontrem uma estabilidade no seu "modus vivendi" na nova era, e algumas consequências dessa desagregação social, da corrupção e da criminalidade institucionalizadas poderiam exigir ainda muito mais tempo para serem combatidas.


O segundo aspecto é que tanto a política ocidental do neoliberalismo, quanto políticas pós-comunistas que ela inspirou subordinaram propositalmente o bem-estar e a justiça social à tirania do PIB, o Produto Interno Bruto: o maior crescimento econômico possível, deliberadamente inigualitário. Assim fazendo, eles minaram – e nos ex-países comunistas até destruíram – os sistemas da assistência social, do bem-estar, dos valores e das finalidades dos serviços públicos. Tudo isso não constitui uma premissa da qual partir, seja para o "capitalismo europeu de rosto humano" das décadas pós-1945, seja para satisfatórios sistemas mistos pós-comunistas.


O objetivo de uma economia não é o ganho, mas sim o bem-estar de toda a população. O crescimento econômico não é um fim, mas um meio para dar vida a sociedades boas, humanas e justas. Não importa como chamamos os regimes que buscam essa finalidade. Importa unicamente como e com quais prioridades saberemos combinar as potencialidades do setor público e do setor privado nas nossas economias mistas. Essa é a prioridade política mais importante do Século 21.


Publicado originalmente no jornal La Repubblica. Tradução de Moisés Sbardelotto em Envolverde/ECO 21.

12 de fev. de 2010

60 anos de Chico Buarque


Como sou fã incondicional do meu amado Chiquinho, peguei um texto super bem escrito, do jornalista Ruy Castro, sobre os 60 anos deste magnífico artista.
O que mais me impressiona é a profundidade de suas letras, a carga sentimental que cada uma delas carrega. Chico é maravilhoso. Tem uma frase que ele diz a Caetano assim: "Gosto de cantar as músicas no feminino porque parece que a gente é outra pessoa, vê diferente".
Aqui o artigo de Ruy Castro.
Foi no tempo em que os bichos falavam ― 1966, 1967, por aí. Os meninos do Brasil estavam ouvindo "Lovely Rita", dos Beatles. Mas os mais espertos preferiam "A Rita", de Chico Buarque. As duas canções saíram na mesma época, mas as Ritas eram diferentes.
A de Lennon e McCartney era uma guarda civil encarregada de fiscalizar parquímetros. Em suma: inglesa. Lennon ou McCartney ― um dos dois, difícil dizer qual ― está a perigo e a fim de Rita. Convida-a para jantar, o que, devido ao inusitado da proposta, Rita não apenas aceita como ainda paga a conta. Ele a leva em casa, ela o convida a entrar e, quando ele pensa que os dois vão acabar na cama, tem de se conformar em passar a noite conversando na sala com ela e as bolhas de suas duas irmãs.
Já a Rita de Chico Buarque era muito melhor. Deu o fora em Chico, foi embora e levou seu retrato, seu trapo, seu prato, que papel, uma imagem de São Francisco e um bom disco de Noel. Não levou um tostão porque não tinha, não, mas causou perdas e danos. Ou seja, era uma mulher de caráter.
A Rita dos Beatles era uma pata-choca encalhada. A de Chico era safa, despachada e capaz de uma atitude.
Por que tirar os Beatles do baú para se falar de Chico Buarque? Porque os artigos comemorativos dos seus sessenta anos o têm situado apenas no panorama da música brasileira em que ele apareceu, de um jato, já com sete ou oito canções excepcionais ― "Pedro pedreiro", "Olê, olá", "Sonho de um Carnaval", "Fica", "Juca", "A banda", "Amanhã ninguém sabe" e a própria "Rita" ―, assim de repente, sem avisar.
Nenhum outro compositor fizera uma espuma desse tamanho ao surgir. Mas o panorama da música naquele tempo era internacional e pouco favorável à aparição de artistas como Chico. Os nacionalismos musicais estavam sob o fogo cerrado das multinacionais do disco ― já era uma tentativa de globalização, embora não soubéssemos.
Todos os países, mesmo os Estados Unidos, começavam a dar as costas à sua música popular e a se converter maciçamente ao iê-iê-iê, na tentativa de fabricar os seus próprios Beatles ou contrafações baratas.
Evidente que o Brasil ― musicalmente um dos países mais cosmopolitas do mundo e já em quarto ou quinto lugar entre os mercados fonográficos ― era um candidato natural a aderir. Pois aconteceu que, enquanto isso se dava no resto do planeta, os jovens brasileiros, mesmo os que gostavam dos Beatles, estavam ouvindo também Chico Buarque.
E muitos, principalmente os universitários, só ouviam Chico Buarque. Mais do que seus companheiros de geração, ele pode ter sido o responsável pelo fato de o Brasil ter continuado a produzir música brasileira. O irônico é que, quando surgiu, Chico parecia um paradoxo ambulante. Muito jovem (22 anos em 1966), bonito (os olhos cor de ardósia já provocavam desmaios, só que em garotinhas), pinta de genro dos sonhos, usava camisas quadriculadas e promovia um boneco de feltro preto chamado Mug, que, diziam, dava sorte. Tinha todas as ferramentas para ser um herói da Revista do Rádio ou da Buzina do Chacrinha, fazendo par com Martinha ou Wanderléa. Pois Chico Buarque, em vez disso, fazia samba. Não o samba da Bossa Nova, como seria de se esperar de alguém da sua idade, mas o samba tradicional ― música que já era associada aos "mais velhos" e que, com a súbita popularidade do iê-iê-iê gerado por um programa de televisão em São Paulo, parecia condenada ao gueto dos morros e das escolas. Para completar, a temática de seus sambas ― amores de Carnaval, moças suspirando na janela, maridos que chegavam tarde em casa ― também parecia de outra época. Nada a ver com a realidade da sua própria geração, que foi a primeira a se beneficiar da pílula e em que as moças, loucas para se livrar da virgindade, faziam os rapazes de cobaia. Aparentemente alheio a isso como compositor, era como se Chico vivesse e escrevesse em 1930. Não deu outra. Os "mais velhos", principalmente os críticos ligados ao samba "autêntico", começaram a usar Chico para combater, não o iê-iê-iê, mas a Bossa Nova ou o que restava dela. E ali começou também a mania de esse ou aquele grupo tentar usá-lo como bandeira para afirmar seus pontos de vista.
Nesses quarenta anos de carreira, o que Chico Buarque mais fez, além da música, foi se livrar de tais bandeiras. A primeira foi fácil. Os que queriam transformá-lo no "herdeiro" de Noel Rosa para atacar a Bossa Nova se chocaram quando viram Chico, logo de saída, dormindo com o inimigo. Mas que inimigo? Tom Jobim e Vinicius de Moraes ― logo quem. Assim que o conheceram, Tom e Vinicius se encantaram, viram nele um irmão mais novo e passaram a compor com ele ― o que, pela força musical e poética que os três tinham em comum, era apenas inevitável. Aos que se encontravam com Vinicius nas ruas do Rio, em 1966, e perguntavam, "E aí, Vina, o que há de novo?", o poeta respondia de bate-pronto: "Chico Buarque de Hollanda".
E, com Jobim, Chico começou uma parceria que iria render, de cara, a imortal "Sabiá", vencedora do Festival Internacional da Canção de 1968. Aliás, vitória que se deu justamente em cima da simplória, mas infecciosa "Para não dizer que não falei de flores", de Geraldo Vandré, este por sua vez erigido em símbolo da luta contra a ditadura ― o que, por contraste, fazia de Chico um símbolo da "alienação", do conformismo. Chico Buarque, conformista? Sim, era assim que alguns ainda o viam naquele turbulento ano de 1968, em que se exigia que os artistas tomassem posições "claras" sobre todos os assuntos, do Vietnã à guitarra elétrica e da pílula anticoncepcional à chegada do homem na Lua. A esquerda considerava que suas Januárias e Carolinas eram umas alienadas, porque ficavam na janela espiando a banda passar quando deviam estar nas ruas e nos sindicatos, lutando contra o regime. (Para piorar, o ditador vigente, o marechal Costa e Silva, era declaradamente fã de "Carolina".) Os tropicalistas, por sua vez, viam em Chico o atraso musical e o chamavam de antigo e superado, porque ele não abria mão de fazer sambas caprichados, em vez de partir para o deboche como eles. E os apóstolos do desbunde, que já despontavam dos bueiros, o desprezavam por seu suposto bom-mocismo e por tomar banho todos os dias. Chico nunca comprou essas brigas. Continuou a explorar seu universo lírico (com "Bom tempo", "Noite dos mascarados", "Quem te viu, quem te vê", "Com açúcar, com afeto", "Ela desatinou") e a enternecer os que ainda não se tinham entorpecido pelos dogmas. Sua música falava por si e estava acima de qualquer ideário ideológico, estético ou contracultural. Mas, como era também inevitável, a ditadura forçou Chico a desafiá-la ― como fez com quase toda a sua geração. Com o endurecimento do regime a partir do AI-5, em dezembro de 1968, a censura começou a marcá-lo em cima, a perseguir suas letras por qualquer bobagem e a tentar tornar sua carreira impraticável. Numa dessas, bateram à sua porta em horas ermas e o levaram ao Ministério da Guerra para uma conversa. Que fim levara o bom moço? Na verdade, o bom moço nunca existira. Chico foi embora (para a Itália), voltou no pior período (o de Médici, entre 1970 e 1974) e lutou, canção por canção, quase verso a verso, para não ser silenciado. Perdeu batalhas e ganhou outras, e só ele sabe o que essa guerra lhe custou. Mas, por causa disto, foi a nossa vez de usá-lo.
A cada samba ou canção novo que soltava, buscávamos sentidos reais ou imaginários nas suas letras e, pela sua engenhosidade e virulência, elas nos vingavam, nos redimiam e nos faziam bem. Nos anos mais sinistros da ditadura, Chico Buarque falou por nós, os covardes ou os que não tinham o seu talento. Não foi o único, é claro, mas era um dos mais visíveis ― e audíveis. Tudo isso já faz muito tempo. A ditadura acabou há décadas e já acabou tarde. O próprio Chico partiu para outros territórios e é curioso escutar hoje, de novo, suas canções do período. Descobre-se que, naquelas em que percebíamos sentidos ocultos, como "Quando o Carnaval chegar", "Basta um dia", "Gota d'água" ou "Maninha", não há nada, nenhuma mensagem em código, só beleza. Nesse caso, éramos nós, sem saber, que estávamos falando por ele. E, nas de virulência dirigida e explícita, como "Deus lhe pague", "Vence na vida quem diz sim", "Cálice" ou "O que será", o que restou delas, depois que se evaporaram os inimigos a combater? Ficaram a música, a letra, o acabamento de primeira, o clima, a emoção ― tudo aquilo em que Chico Buarque sempre investiu, alheio à sua ira ou ranger de dentes do momento. Um garoto de quinze anos, que as ouça pela primeira vez e não tenha a menor idéia do que essas canções significaram em seu tempo, ainda assim poderá amá-las ― pela sua inteligência e qualidade lírica intrínsecas, à prova de épocas, folhinhas, relógios.

10 de fev. de 2010

Ressignificações da História

O presente artigo tem como função induzir o leitor a refletir acerca de como o poder institucional tem poder de manipular o ensino, submetendo-o a interesses de alguns setores da sociedade.

Como parte do processo de ensino, o historiador atual deve tomar cuidado para não deixar transparecer sua posições sobre os acontecimentos, mas há fatos que não dá para serem ignorados.

Após o Brasil se tornar um estado independente e monárquico, a escola era um lugar destinado a ler, escrever e contar. Os professores da escola elementar deviam, segundo os planos de estudos propostos em 1827, ultilizar, para o ensino da leitura, entre outros textos, "a Constituição do Império e História do Brasil", com objetivo de exercitar a leitura e inserir nos meninos o espírito de aventura dos grandes heróis e o senso moral por meio de deveres com a Pátria e seus governantes. Sem esquecer que neste período a História do Brasil estava vinculada a Europa, descoberta por portugueses, branco, de olhos claros, sendo a história indígena descartada completamente, como se no Brasil a história começasse à partir do seu descobrimento.

Os conteúdos passaram a ser elaborados para construir uma idéia de nação associada à pátria , integradas como eixo indissolúvel.

Nas escolas, o ensino de História Sagrada fazia parte de doutrina religiosa, sendo ela mais difundida que a história laica, mesmo após a separação da igreja com o Estado.

A moral cívica vinculava-se a moral religiosa.

Educadores defendiam como modelo pedagógico a narração da vida dos santos e heróis profanos, de nome História biográfica.

Com a abolição da escravatura , no final da década de 80 do século XIX, o aumento populacional proveniente do intensificado processo de imigração e urbanização ampliaram os debates políticos sobre a concepção de cidadania; havia a necessidade do aumento de número de imigrantes que deveriam gostar da "nova terra" e atrair mais imigrantes, assim os direitos sociais e civis foram estendidos a um número cada vez maior de pessoas.

A escola ganha um novo destaque pela necessidade de aumentar o números de alfabetizados, condição fundamental para aquisição da cidadania política.

O aumento de alunos filhos de imigrantes levou os programas curriculares a sedimentar uma identidade nacional por meio da homogeneização da cultura escolar.

O foco era imitar a história européia visando a modernidade por meio da obediência a hierarquia, sem contudo, incluir nos programas curriculares a participação deles na construção histórica da Nação.

O fortalecimento do sentimento nacionalista, fez surgir as "inveções de tradições" (Eric Hobsbawn) , semelhante ao que ocorreu na Europa, os símbolos que representam o país como bandeiras (ver neste mesmo blog "A cremação das bandeiras), Hinos, o sentimeno patriótico são exemplos disso.

Acentuada principalmente durante o Estado Novo (olha ele de novo) de Vargas, o nacionalismo se torna uma doutrina e buscando raízes na própria terra, desvinculando-se da História européia, o mestiço, a feijoada, o samba, passam a ser referências do Brasil (ver neste mesmo blog Saudosa Maloca).

Havia historiadores e professores que se opunham a uma história exclusivamente de uma elite branca com os olhos voltados para Europa e para a evocação de uma mestiçagem que seguia passiva o rumo dos acontecimentos.

Grupos anarquistas que lideravam os grupos operários em suas lutas por direitos trabalhistas criaram em várias cidades, as Escolas Modernas em que o ensino se voltava contra a exarcebação do patriotismo e o culto a pátria, os quais entre outros propósitos incentivava e justificava o militarismo e as guerras. Vargas, sabendo do perigo que isso poderia representar para seu projeto de Estado Novo, disciplinador e nacionalista, fechou todas essas escolas e fundou o Ministério da Educação, organizando o sistema escolar de maneira centralizada e os conteúdos obedecendo normas mais rigorosas e gerais.

À partir daí a história ensinava o culto aos grandes heróis nacionais sendo Tiradentes o herói máximo.

Na forma de ensinar, usava-se o método mneumônico, pura decoreba que impunha perguntas e respostas com imagens associativas, caso respondesse errado, o aluno recebia a palmatória e as festas cívicas com a participação de autoridades e pais.
Pausa para uma reflexão; Quando em posts anteriores vimos "o que é representação social" fica claro que a representação acaba sendo uma arma, dependendo de quem a manipula.
Michel Foucault diz uma frase que acho simples e direta para o entendimento "A representação social não é uma cópia do real, mas uma construção feita à partir dele".
As Instituições sabem bem tirar proveito disso, mobilizado as massas de acordo com seus ideais políticos.
A escola claramente trabalhava para doutrinar o aluno a se tornar um cidadão a serviço da Pátria, nunca esquecendo de atender a elite dominante, tanto que o latim diferenciva uma elite social do povo iletrado e a formação moral, cujo, os valores eram dissiminados como universais, eram praticados exclusivamente pela elite. As disciplinas foram organizadas para atender objetivos sociais e de formação de valores.
Com o surgimento do capitaismo, o mundo industrial era incorporado por setores da nossa elite, que questionou o método humanístico de ensino e pessionou mudanças no ensino. Era necassário incorporar ciências exatas; Matemática, Física e Química. Compôs-se então o curriculo científico.
"Os métodos e conteúdo de ensino das disciplinas correspondentes provinha de projetos norte-americanos e estavam visivelmente direcionados para a formação de elites voltadas para a produção tecnológica, as quais deveriam estar submissas aos interesses do capitalismo, assim como aos valores propugnados pela Guerra Fria" (Circe Bittencourt)
Na área de humanas, acentuava-se a necessiade de neutralidade diante da história recente por parte do professor , justificada pela objetividade fornecida por uma História de caráter científico, assim como em exatas.
Os métodos, baseados nesta concepção de postura professor, passaram a ser considerados "técnicas de ensino".
Assistir a um filme correspondia a análise da linguagem do ponto de vista artístico, mas sobretudo, a escolha da obra cinematográfica era determinda pelo conteúdo, como no filme Marat/Sade, baseado na peça teatral de Peter Weiss, no qual se debate o tema da Revolução Francesa sob uma ótica diversa para a compreensão do "Período do Terror" de Robespierre.
Compreende-se então o fechamento, pelo Regime Militar, dessas escolas que promoviam uma renovação do ensino no sentido de articular conteúdo e método.
E agora, será que não estamos sendo "usados"a não interferir num sistema vigente, que busca profissionais técnicos para o mercado de trabalho, em não emitir opiniões sobre os fatos.
Todas as revoltas surgem em núcleos pensantes, seja ela indígena, elitica, artística, operária, surgiram em locais onde pessoas que estavam por dentro do assunto debatiam e disseminavam suas idéias. Não podendo calar o pensamnto de um intelectual, que se afoga em livros, fazê-lo omitir sua opinião, não é uma forma de calá-lo ?
Michel De Certeau defende que as pessoas são livres para ressignificar tudo, para ele não existe estruturas sociais, no entanto, para Pierre Bourdieu as ressignificações são crias de sua condição social.
Agora, tire você mesmo suas conclusões. Comente.