28 de jan. de 2010

O Correio Braziliense na Imprensa do Brasil

Em meados do século XIV o livro passava por três censuras: a episcopal exercida pela igreja , a da inquisição e a régia exercida por desembargadores do Desembargo do Paço.

Nos fins do século XVIII inicia-se o surgimento de bibliotecas particulares, mesmo sabendo que era um ato de crime, estudantes que iam para Europa, traziam livros de forma clandestina e perigosa. Com essa prática o volume de livros comercializados aumenta e faz surgir obras heterodoxas como Montesquie, coleção das Leis dos EUA, A Revolução (de Volney), Dicionário Filosófico(de Voltaire), entre outros.

Quase todos os livreiros de Lisboa eram franceses e fundavam casas (tipo cafés) pondo em circulação todas as publicações modernas. Houve um livreiro que introduziu mais de doze mil exemplares da Constituição Francesa em Portugal.

Papeis, revistas e livros circulavam no país por meio de marinheiros ingleses que traziam pelo cais.

No Brasil, os livros eram vistos com extrema desconfiança, só natural nas mãos de religiosos, bibliotecas apenas em mosteiros e colégios.

Com a Abertura dos Portos em 1808, por ordem da Corte Real que chegara naquele ano, os livros passaram a entrar em maior volume, mesmo com uma maior vigilância em relação aos livros que entravam pelo cais.

O Brasil não tinha universidades e era um dos únicos no mundo, exceto a África e a Ásia que não produzia a palavra impressa e uma das poucas tentativas esbarrava na intransigência das autoridades portuguesas. O escravismo dominante era avesso a cultura. Antes de 1808 houveram duas tentativas de se implantar tipografias para impressão, mas foram abafadas pela Corte, que temia ideias contrárias a Monarquia. O problema é que neste período na Europa, as ideias liberalistas já tomavam conta de vários países como EUA, e França.
Portugal como Pais monárquico não convinha o liberalismo , pois entraria em choque direto com a legitimidade dos reis A ignorância era necessária ao colonizador.


As mudanças ocorrem com a chegada da Família Real, que promoveu a Abertura dos Portos fazendo o comércio florecer.

Como a França havia invadido Portugal, a necessidade de sobrevivência da Corte em território brasileiro levou a criação de uma indústria de base como fábricas de pólvora, ferro e vidro e a necessidade de mostrar os Atos de Governo e notícias interessantes a colônia, logo após a chegada do Rei , se implanta a imprensa régia.


Neste contexto surge o Correio Braziliense.

Hipólito José a Costa Mendonça Furtado, nascido em 1764 na colonia de Sacramento, na Cisplatina, crescera no Rio Grande do Sul, em Pelotas, oriundo de familia rica.

Como todos os jovens da elite, partira para Coimbra para estudar, formando-se em 1794, então com 30 anos.

Em 1798, fora aos Estados Unidos em missão especial do governo português para escolher sementes e espionar os avanços tecnológicos. Morou lá por 2 anos e pode ver com os próprios olhos uma sociedade organizada, com universidades e um processo eleitoral adiantado.

Lá se envolveu com a maçonaria, cujo os ritos pressupunham a liberdade religiosa, o que Portugal não permitia.

Volta a Lisboa em 1800 como funcionário de Imprensa Régia, responsável pela publicação de livros de técnicas e economia. Paralelo ao seu trabalho, se envolvia mais ainda com a maçonaria portuguesa. Uma viagem especial a Londres o poria em contato com a maçonaria inglesa, até então a mais forte e importante do mundo, da qual eram membros os filhos do Rei Jorge III, e de um deles (Conde de Sussex- Augusto Frederico) Hipólito se torna grande amigo.

Foi por conta desses contatos novos que fez em Londres que logo depois de chegar a Portugal, é preso pelo Santo Ofício, só conseguindo a liberdade quando foge da prisão em 1805.

Volta a Londres e sobrevive graças a ajuda dos amigos maçons. No começo se virou como tradutor e professor de português.

Com a chegada da Família Real, que fugia da perseguição napoleônica aos Reis, Hipólito viu a oportunidade da colônia crescer, e buscando esse crescimento cria a palavra impressa e livre de censura, tal como vira nas países europeus.

Observou que na Inglaterra a monarquia constitucional era um fato, onde o parlamento, realmente limitava o poder do rei, onde a imprensa era livre e por ser amigo do Conde de Sussex, sentia-se à vontade para criticar a administração portuguesa como nenhum outro português ousaria fazer.

Esses fatos o motivaram a publicar em Londres, no dia 1° de Junho de 1808, o Correio Braziliense ou Armazém Literário.

Numa época em que o acesso a educação era restrito, a imprensa se firmava como difusor de novas ideias. O jornalista se confundia com educador.

O jornal tinha o tamanho e o formato de um livro, composto de vários e longos artigos, com informações analíticas e textos que as vezes se prolongavam por vários números seguidos.
Era assim o Correio Braziliense; cada número tinha cerca de cem páginas e dividido nas seções: Política, Comércio e Arte, Literatura e Ciência, Miscelânea a eventualmente Correspondência.

Na Miscelânea havia as Reflexões do Mês, que ao serem resenhadas incluíam suas observações e críticas, e foi neste espaço que, de forma organizada e consistente, pensa em seu projeto para o Brasil, por isso, tanto para a história da imprensa, quanto para a história do Brasil, é a parte mais importante do Correio.

A maior parte do jornal era dedicada a publicações de documentos de acontecimentos mundiais, além de notícias que ele recolhia nas Gazetas internacionais.

Era o noticiário mais atualizado possível e de fato, foi através do Correio que os brasileiros puderam acompanhar a trajetória de Napoleão e sua derrota, a Independência das colônias espanholas na América; e as fontes eram as melhores possíveis, pois, é bem provável que as informações fossem relatadas pelos próprios libertadores (Miranda, Bolívar, San Martin e O'Higgens) dos quais, por meio da maçonaria, se tornou amigo.
Mesmo cobrindo fatos internacionais, era o Brasil seu público alvo e seu possível público leitor.
Se colocava contra os monopólios que impediam o desenvolvimento do comércio e da indústria e à favor das transparências nas obras públicas. Não era democrata, queria reformas feitas pelo governo e não pelo povo. Acreditava que como viu na Inglaterra, a monarquia constitucional era o melhor governo possível.

Com a vinda da Corte e uma maior circulação de ideias, paralelo a ascensão da burguesia, as conversas políticas com relação a monarquia aumentaram.

Entre os historiadores há uma polêmica no que diz respeito a sua influência nas mentalidades brasileiras e quanto a ser o primeiro periódico no Brasil.

Não podemos esquecer que Hipólito era filhos de estancieiros ricos do Sul, portanto fazia parte de uma elite agrária ; era à favor de uma Monarquia Parlamentar, como na Inglaterra, e não da República, assim sendo, apoiou a escravidão, ficou ao lado da Corte quando Portugal tentou recolonizar o Brasil, mas em compensação, apesar de não ser produzido no país, o Jornal foi o único que conseguiu apontar as falhas na administração brasileira.

O termo correto seria periódico, pois se parecia mais como uma revista mensal do que com um jornal.

Quem mais se assemelhava a um jornal era a Gazeta do Rio de Janeiro, fundada em 10 de Dezembro de 1808, "irmã" da Gazeta de Lisboa.

Desnecessário dizer que se tratava da imprensa régia trazendo decretos, fatos relacionados com a Família Real, noticiário internacional, filtrado pela censura, sua periodicidade era curta, intensão informativa, poucas falas e preço baixo.

Nelson Werneck Sodré, autor de várias obras indispensáveis para quem quer entender a imprensa, diz que "nada tem de extraordinário o aparecimento do Correio Braziliense, pois sua influência foi relativa na medida em que sua forma de fazer imprensa era inadequada dentro do contexto político-social que o Brasil se encontrava; era pouco lido (mais repassado boca-a-boca) e quando surge as condições adequadas para o aparecimento da imprensa, o Correio perde a razão de ser, a elite da qual Hipólito fazia parte, aceitou a Independência e o Correio deixa de circular". É difícil considerá-lo como Imprensa Brasileira, uma vez que eram produzidos em Londres e a única condição pra isso é o fato de visarem as pessoas influentes do Brasil. Seu objetivo era atingir ao Brasil como público leitor, mas o fato de sua produção ser em Londres esclarece a dificuldade de condições políticas para se estabelecer a imprensa".

Quando ocorre a Revolução o Porto e obriga o Rei a regressar, ameaçado de perder a Coroa, inicia-se várias medidas legais para tornar o Brasil novamente dependente de Portugal, então Hipólito passa a ser completamente contrário a ideia, torna-se novamente oposição e inicia um diálogo entre o Correio e os liberais do Brasil.

"A elite colonial não queria a imprensa por temer a independência ou para não interferir num sistema econômico já vigente e cômodo. A conquista anterior fica em perigo e o perigo une; para unir é preciso mobilizar e para isso é necessário despertar opiniões, e para despertar opiniões é preciso a imprensa." ( Nelson Werneck Sodré)

A partir de 1821 a Gazeta passa a defender o liberalismo e a modernidade política, posiciona-se a favor da Independência antes do Correio que levava desvantagem pela distância e pela demora do periódico.

O jornal que foi fundado em 1° de Junho de 1808, publica seu último exemplar em Novembro de 1822. Teve 175 números editados, no total.

Hipólito morre em 11 de Setembro de 1823 de infecção intestinal, na época Cônsul Geral do Brasil.

Para a elite da qual ele fazia parte, a monarquia era cômoda, então Hipólito era somente contra a administração, não contra a monarquia. Quando o livre comércio se vê em risco, subjugado à metrópole, deixa sua postura monarquista e mesmo contra seus princípios apoia a Independência. Quando esta surge, o jornal deixa a razão de ser.

O que fica de legado do Correio Braziliense, e talvez o maior legado, é a riqueza de detalhes que o jornal conta em cada exemplar.

Para os historiadores é a riqueza de detalhes dos textos e documentos que nos dá condições reais de estudarmos a época e seus acontecimentos.

20 de jan. de 2010

Cremação das Bandeiras - Este é Getúlio Vargas

Esta postagem complementa o entendimento da postagem anterior, no que tange ao Estado Novo de Getúlio Vargas.
Na definição de Michel de Certeau apesar de as ciências sociais possuírem a capacidade de estudar as tradições, linguagem, símbolos, arte e artigos de troca que compõe uma cultura, lhe faltam formalismos para examinar as maneiras em que as pessoas se reapropriam destas coisas em situações cotidianas.
Certeau argumenta que esta é uma omissão perigosa, pois na atividade do re-uso encontra-se uma abundância de oportunidades para pessoas comuns subverterem os rituais e representações que as instituições buscam impor sobre eles.
Uma estratégia é uma entidade que é reconhecida como uma autoridade - pode ser qualquer coisa, desde uma instituição ou uma entidade comercial até um indivíduo cujo comportamento coincide com as definições propostas pelo autor para "estratégico". Uma estratégia pode ter o status de ordem dominante, ou ser sancionada pelas forças dominantes. Ela se manifesta fisicamente por seus sítios de operação (escritórios, matriz ou quartel-general) e nos seus produtos (leis, linguagem, rituais, produtos comerciais, literatura, arte, invenções, discursos).
O objetivo de uma estratégia é se perpetuar através das coisas que ela produz. Eficiência máxima significa ser capaz de vender o menor conjunto possível de produtos para o mercado mais amplo possível. Portanto a sua preocupação maior é a produção em massa e a homogenização do seu público-alvo.
Com essas definições de Michael de Certeau e os conhecimentos adquiridos na postagem anterior, fica mais fácil entender na prática a ditadura de estilo fascista do Estado Novo.
A queima das bandeiras age como se apagasse a hegemonia regional e estadual do Brasil, fazendo com que a grande massa absorvesse a idéia de Nação.
Quando um passado é encenado num ato, como uma atividade cultural, as lembranças que esse ato evoca assume o caráter de tradição cultural e neste, alimentam a memória social inserindo-se nas cerimônias comemorativas.
Observem a participação de Villa Lobos, citado no post anterior, como maestro "oficial" do nacionalismo de Vargas.
Abaixo um texto extraído do site http://www.caféhistória.com/ e o link da comemoração que deu início oa Dia da Bandeira, com a queima das bandeiras estaduais.
Menos de um mês após a implantação do Estado Novo, Vargas mandou realizar a cerimônia da queima das bandeiras estaduais, que teve lugar na Esplanada do Russell no Rio de Janeiro, para simultaneamente comemorar a Festa da Bandeira (cuja celebração tinha sido adiada) e render homenagem às vítimas da "Intentona Comunista" de 1935. Nesta cerimônia, que marca a nível simbólico uma maior unificação do país e um enfraquecimento do poder regional e estadual, foram hasteadas vinte e uma bandeiras nacionais em substituição às vinte e uma bandeiras estaduais que foram incineradas numa grande pira erguida no meio da praça, ao som do Hino Nacional tocado por várias bandas e cantado por milhares de colegiais, sob a regência do maestro Heitor Villa Lobos.
À queima das bandeiras seguiu-se o discurso do Ministro da Justiça, Francisco Campos, no qual ele afirmou:
"Bandeira do Brasil, és hoje a única. Hasteada a esta hora em todo o território nacional, única e só, não há lugar no coração dos brasileiros para outras flâmulas, outras bandeiras, outros símbolos.
Os brasileiros se reuniram em torno do Brasil e decretaram desta vez com determinação de não consentir que a discórdia volte novamente a dividi-lo, que o Brasil é uma só pátria e que não há lugar para outro pensamento do Brasil, nem espaço e devoção para outra bandeira que não seja esta, hoje hasteada por entre as bênçãos da Igreja e a continência das espadas e a veneração do povo e os cantos da juventude.
Tu és a única, porque só há um Brasil ─ em torno de ti se refaz de novo a unidade do Brasil, a unidade de pensamento e de ação, a unidade que se conquista pela vontade e pelo coração, a unidade que somente pode reinar quando se instaura pelas decisões históricas, por entre as discórdias e as inimizades públicas, uma só ordem moral e política, a ordem soberana, feita de força e de ideal, a ordem de um único pensamento e de uma só autoridade, o pensamento e a autoridade do Brasil"
(Correio da Manhã, 1937, p. 3).Fonte do texto: "O NACIONAL E O REGIONAL NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE BRASILEIRA". Ruben George Oliven

11 de jan. de 2010

Saudosa Maloca - São Paulo de Adoniran Barbosa.


O presente artigo, tem como objetivo entender o período da São Paulo de 1950, suas modificações, as causas e consequências dessas mudanças.

Para isso foi ultilizado o livro de Francisco Rocha - Adoniran Barbosa, O poeta da cidade - que mostra como o artista representa, por meio de seus personagens e letras de música, as condições em que a população operária, ou seja, os mais pobres, viam essas mudanças.

Em 1950 o então presidente da República Getúlio Vargas faz do período o resgate da cultura popular urbana no momento em que a rádio se projetava como meio de comunicação em massa, espaço de reprodução e divulgação dessa "nova cultura". A rádio é um fenômeno social no Brasil, assim como no mundo ocidentalizado.

O Estado Novo varguista absorvia a música e a folia popular, garantia os trilhos e exigia que se andasse na linha, era um Estado disciplinador e musical, assim Villa Lobos regia as crianças durante festejos cívicos, impunha contar a grandiosidade e as coisas belas; o samba exaltação, cujo melhor exemplo foi Aquarela do Brasil de Ari Barroso, um exemplo claro de interiorização desta ditadura pelos artistas.

"Os meios de comunicação de massas funcionam como uma espécie de espelho de identificação dos grupos para os quais eles se projetam" (Michel Maffesoli).

Sob forte influência dos arranjos do jazz ( para entender bem os acontecimentos, sugiro a leitura, neste mesmo blog das Mudanças Culturais na I e II Guerra Mundial), Villa Lobos divulgava seu estilo musical cantando em acordes e letras, as belezas do Brasil.

No âmbito da história mais recente, fez-se um corte radical entre o velho Brasil desunido, dominado por latifúndios e oligarquias e o Brasil que nasce com a Revolução. O Estado Novo teria realizado os objetivos revolucionários, promovendo atravéz da busca de novas raízes, da integração nacional, de uma ordem não dilacerada pelas disputas partidárias, a entrada do pais em tempos modernos, ou seja, a Revolução de 30 e a consolidação de seus propósitos, passaram a ser simbolizados como marco zero do nosso devir histórico.

Era a cultura mestiça que nos anos 30 despontava como representação oficial da Nação.

Como todo nacionalismo, cria-se símbolos ambivalentes onde interesses privados assumem sentidos públicos. Exemplo do mestiço usado como símbolo da Nação está a feijoada e o samba, que passa a ser exaltado como expressão de brasilidade. Basta lembrar que o Samba-Enredo foi oficializado em 1935 e em 1937 , obrigatóriamente o tema deveria ser histórico.

Para José Murillo de Carvalho "Nunca um governo adotou uma postura oficial da valorização do popular sobre o erudito, do povo sobre a elite. O modelo de Brasil não estava mais na Europa, mas em nossa própria história, nossas tradições, nosso povo e patrimônio".

Interessante pensar que este nacionalismo, visando a propaganda, foi desenvolvido pelo nazifascismo europeu e recuperado por Vargas e Perón (que chegaram a ser considerados fascistas). Este método legitimava-se pela tentativa de reformular mecanismos de controle social considerados inadequados para os novos tempos, canalizando as massas na direção imposta pelo novo regime; o temor a oposição acaba com a pluralidade da vida social, como experiência democrática e impõe a construção de uma sociedade unida e harmônica (Maria Helena Capelato).

No período do Regime Militar, mais especificamente no governo de Faria Lima, São Paulo torna-se a sede do milagre brasileiro. Para quem não se lembra, devido a Guerra Fria entre Estados Unidos e URSS, os americanos emprestavam dinheiro à rodo para os paises que se desenvolviam economicamente, visando introduzir suas multinacionais e manter os paises amarrados a sua disciplina, evitando a entrada do comunismo. O período ficou conhecido como o milagre econômico, pois fortíssimos investimentos eram aplicados no pais com novas indústrias e construções, porém gerou, anos mais tarde, uma inflação monstruosa que deixou o pais individado por até pouco tempo atrás.

O perfil paulistano da "gente laboriosa" e "cidade que não pode parar", trás um sentido de Nação, como se as projeções da cidade fossem modelo de Nação e a verticalização de São Paulo também torna-se traço dessa característica. A imagem de "cidade do progresso" fundamenta tanto o caráter congratulatório, como constrói a identidade sua e de seus habitantes. O tempo é medido pelo trabalho, onde um intervalo menor produz cada vez mais, portanto, o jeito de ser paulistano é tecido pela lógica trabalho/ produção = pressa.

Quando o passado é encenado num ato, como uma atividade cultural, as lembranças que esse ato evoca assumem o caráter de tradição cultural e neste alimentam a memória social inserindo-se nas cerimônias comemorativas. Neste contexto, o meio usado foram as comemorações do IV Centenário da cidade.

Como lembra Michel Certeau "Em nossa sociedade ausência de trabalho significa absurdo; deve-se eliminá-la para que prossiga o discurso que incansávelmente articula as tarefas e constrói o relato ocidental do " há sempre alguma coisa a fazer".

Em 1950 fabricava-se quase tudo em Sampa, o que levou a uma migração em massa de nordestinos para a cidade, principalmente para trabalharem na construção civil, basta saber que de 1940 a 1960 a cidade tanto em habitantes quanto em construção e cultura cresceu o dobro.

Os imigrantes italianos que já estavam aqui há algumas gerações, conseguiam estudar e se tornar pequenos e médios empresários, já os negros, apesar de uma leve melhora na condição social, ainda eram vistos amalgamados a escravidão, com oportunidades reais, mas remotas de ascenção econômica. As mulheres , antes à margem da economia, agora se encontravam em fábricas ou como costureiras ou ainda manicures, inseridas no operariádo paulistano.

As contradições eram vistas na periferia , onde antes moradores do centro bem servidos de equipamentos urbanos, agora se encontravam na região periférica da cidade em lotes sem água, sem luz e com ruas intransitáveis, empurrados pelo crescimento economico, que exigia maior espaço do centro econômico e comercial, colocando o próprio operariádo à margem da cidade. Nascia a periferia.

Adoniran, o artista

Filho de imigrantes italianos, João Rubinato nasceu em Valinhos em 1910 e no início dos anos 30 se muda para São Paulo. Trabalhou em várias empresas, como operário, garçon, mecânico, mas problemas pulmonares o afastaram. Cresceu nas ruas da cidade ouvindo vozes, sotaques e jeitos das pessoas com quem se relacionava.

Sua poética está justamente na inventabilidade de um certo jeito de ser paulistano. Sob pseudônimo de Adoniram Barbosa o artista se inicia como radioator e compositor de inúmeros sambas. Por 10 anos trabalhou na radioteca de Record, cujo seu personagem era Charutinho no programa Histórias das Malocas. Produz uma instigante crônica da cidade , busca retratá-la no instante em que o processo de industrialização e a formação de uma sociedade de massas se intensifica no pais e o cenário paulistano é o símbolo desta transformação.

Segundo Hannah Arendt, o conceito de biografia é a história da vida que integra o conjunto de atos e palavras de uma pessoa, então a história de vida de Adoniran se confunde com sua obra.

A pessoa de João Rubinato narra o que o artista Adoniran vê nas mudanças da metróple, e fala por seu grupo, na visão dos excluídos, então, apesar de parecer antigo é moderno, pois trata-se de vozes de pessoas que se identificam com a São Paulo em algum período da história. O artista foi considerado por críticos como verdadeiro "retratista do cotidiano"e seu personagem Charutinho, no programa, se mostra o avesso do discurso oficial autocongratulatório que legitimava "nossa gente laboriosa".

O espaço da metrópole reflete o presente construtivista e produtivo, assim, a paisagem urbana se concebe num espaço homogêneo e rápido de circulação. O individual, qualitativo e heterogêneo são excluídos do espaço urbano, assim essse espaço não se oferece como suporte do passado, pois está voltado para o futuro.

"A fusão de Adoniran com os Demônios da Garoa e a percepção dos sons das ruas da cidade deu a obra a fotografia de Adoniran. Uma obra não é somente descritiva, é refletiva também, cheia de idéias sui generis de observação e de conclusões que ficam à beira da trajédia ou da comédia" (Zuza Homem de Melo).

Um artista inventa, antes e mais nada, sua própria personalidade, e ao fazer isso, Adoniran exprime toda a realidade paulistana numa polifonia de vozes.

Em Sampa, a sátira era social e não política como no Rio de Janeiro.

A Record queria atingir as camadas populares e Histórias das Malocas era como se fosse novela, com seu público fiél. O programa de rádio ironizava valores da ordem burguesa, permeado por um idealismo romântico. De um lado a metáfora do trabalho, da opressão, do peso de uma vida regrada pelo positivismo e de outro lado como metáfora do ócio, da liberdade, configurando-se como oposição aos padróes instituídos. Uma microresistência.

Se pensarmos que no momento a cultura dominante promete as benesses da sociedade de consumo e portanto da abundância, a maloca representa, antes de mais nada, o contraste visível e concreto a essa civilização moderna.

"Maloca onde a riqueza é...um jacá de vaziesa..., uma cesta de fome...e um pacote de gemido" (trecho do programa)

Para a autora Mirian Goldfeder "a favela é o último reduto da solidariedade social, ao mesmo tempo em que se cria um espaço para a discussão do antitrabalhismo, filosofia básica assumida por seus habitantes". Uma reflexão própria; será que esse (pré) conceito não ajuda a legitimar o mito que na favela só tem vagabundo ?

A valorização de uma microsociedade, de suas formas e valores romperia com as regras definidas pela ética dominante. Em seu fazer artístico a escrita ou as letras institucionalizadas não são relevantes, na medida que um cancionista produz a fala ao canto, mas não podendo prescindir a cultura oral, das representações do mundo que entre outros suportes, fixam em narrativas orais.

Noel Rosa disse, "O samba não se aprende em escolas como reprodução de conhecimento (uma alusão as escolas tradicionais). Ele é sentido. Quem vai a escola de samba não busca o que já não possua. O samba habita aquele que o deseja, não nasce nem no morro nem na cidade"

Certeau e Giard dizem que " devemos considerar a cultura como ela é praticada, não naquilo que é valorizado pela representação oficial, é a oralidade que junto com a criatividade, prática e os atos da vida cotidiana que a sustentam e a organizam. Isto é cultura popular, uma (re)apropriação da ordem dominante".

Dentre as várias músicas de Adoniran que fizeram sucesso está: Saudosa Maloca, Trem das Onze, Iracema, Samba do Arnesto, Um samba no bexiga (esse samba deixa claro as raíses italianas do bairro, quando fala de um bate boca que aconteceu no bar em que "voava a pizza junto com as bracholas"), todas deixam claro o momento em que a música quer retratar, e o grupo social predominante que o artista pertence.

Em minhas pesquisas sobre história cultural, me deparei com uma frase de Michel Foucault em que ele diz; "A representação social não é uma cópia do real, mas uma construção feita à partir dela".

Acho que esta frase consegue explicar com exatidão como entender a representação social.

Aqui o link de Adoniran e Elis Regina cantando em um bar no bairro do Bexiga em 1978.

http://www.youtube.com/watch?v=Ea5nMXIRxQM

5 de jan. de 2010

Os Romanov e a Grã -Duquesa

Durante os anos de 1904 e 1905 a Rússsia travou uma guerra com o Japão, disputando os territórios da Mandchúria e Coréia. Este conflito encerrou com uma vergonhosa derrota para os russos, afetando grandemente a economia do país e causando graves instabilidades políticas. Não obstante, em 1914 o Czar Nicolau II precipitou a Rússia num novo conflito de proporções ainda maiores, a Primeira Guerra Mundial. Nesta guerra, a Rússia também sofreu pesadas derrotas frente a Alemanha, ocasionando uma crise de abastecimento e intensificando as convulsões políticas internas.
Em 1917, Nicolau II tomou sua última decisão errada! Durante uma greve em Petrogrado, então capital do país (depois Leningrado e atual São Petersburgo), o Czar ordenou que os militares atirassem contra os manifestantes, ocasionando cerca de 1500 mortos e 6000 feridos. O turbilhonamento popular proporcionou o desencadear da chamada Revolução de Fevereiro (março pelo calendário gregoriano), com a abdicação do Czar no dia 15 de março. Iniciava-se o Governo Provisório na Rússia.

A família real Romanov, representada pelo Czar Nicolau II, a Czarina Alexandra e seus cinco filhos – Olga, Maria, Tatiana, Anastasia e Alexander – foi encarcerada no palácio Tsarkoe Selo, nos arredores de Petrogrado.
O novo regime vivia sob o medo constante de um movimento reacionário libertar a família real e restaurar o regime anterior, por isso, em agosto de 1917, transferiu os Romanov para Tobolsk, na remota Sibéria. Neste local a possibilidade de monarquistas tentarem uma libertação se afigurava mais remota e tranquilizava o Governo Provisório.
Neste momento a Rússia estava muito longe de ser pacificada. Com a ajuda dos alemães, Vladimir Lênin retornou de seu exílio e passou a liderar o movimento bolchevique que culminou com uma nova revolução, a chamada Revolução de Outubro (novembro de 1917, pelo calendário ocidental), que derrubou o Governo Provisório e instituiu o Governo Socialista Soviético.
A política mudou e os Romanov também. Com o novo governo, em princípio de 1918, os Romanov foram transferidos para os Urais e alojados numa casa na pequena cidade de Ekaterinburg.

A família era mantida sob máxima vigilância e vivia reclusa, servida por apenas alguns empregados fiéis e o médico da família.

Em julho de 1818, sob o temor de o Exército Branco tentar a libertação da família e restaurar a monaquia, o Governo Bolchevique anunciou que o Czar Nicolau II fora executado e que a Czarina e seus filhos haviam sido poupados e levados para um local secreto. Por algumas vezes o Governo Bolchevique alterou a declaração inicial, prevalecendo que toda a família havia sido executada, quebrando, assim, a dinastia russa em prol dos soviets.

A confusa declaração do governo causou várias dúvidas e especulações. Teria sido apenas Nicolau II executado? Teria sido toda a família? Ou todos estariam a salvo num exílio secreto?
A falta de informação sobre a Família Real Russa permaneceria por muitos anos, prevalescendo a idéia de que todos haviam sido executados. No entanto, a enorme fortuna dos Romanov fertilizava a imaginação de muitas pessoas.

Em 1961, um polonês desertor, Nicolau Goleniewski afirmou, nos Estados Unidos, que era o filho Alexandre (o mais novo) de Nicolau II. No seu casamento, em Nova Iorque, duas mulheres assinaram com os nomes de Olga e Tatiana, dizendo-se irmãs do suposto herdeiro do Trono Russo. Muitos outros Alexanders, Olgas, Tatianas, Marias e Anastasias apareceram, mas um caso, envolvendo a possível grã-duquesa Anastasia, realmente inflamou, desde cedo, o mistério dos Romanov.

EU SOU ANASTASIA!
No dia 27 de fevereiro de 1920, apenas um ano e meio após a suposta execução dos Romanov, uma adolescente foi retirada semi-inconsciente de um canal em Berlim.
A moça foi levada para um hospício, onde normalmente eram levados aqueles que tentavam suicídio. Ela não portava documentos, contudo informou, ainda um tanto inconsciente, que seu nome era Anna Tschaikosvski.
Ao recobrar totalmente a consciência, no hospital, reivindicou sua identidade verdadeira como a grã-duquesa Anastasia, herdeira do trono russo! Poderia ser apenas mais uma jovem reivindicando seu sonho de princesa, caso o seu relato não fosse tão circunstanciado e apresentado uma série de provas que pareceu, para muitos, não deixar dúvidas.
A jovem narrou que estava com toda a família em Ekaterinburg quando em um dia de julho de 1917, todos foram levados para a adega da casa, juntamente com o médico da família Dr. Eugene Botkin e mais três criados. Cercados por um pelotão de fuzilamento, todos receberam diversos disparos e teriam caídos mortos.
Dois soldados (irmãos Tschaikovski), ao retirar os corpos, perceberam que a jovem ainda respirava. Não satisfeitos com o Exército Vermelho, os dois irmãos resolveram cuidar de Anastasia, desertando e fugindo, em seguida, para a Romênia. Na fuga foram acompanhados por duas outras mulheres.
Com o dinheiro proveniente da venda de um colar de pérolas e esmeraldas que a grã-duquesa trazia costurado ao vestido, conseguiram chegar a Bucareste, onde passou a viver como parente dos rapazes.
Anastasia teria se casado com um dos irmãos Tschaikovski e tido um filho. Em dado momento, seu marido foi reconhecido por bolcheviques e assassinado. Anastasia teve um colapso nervoso e seu filho entregue para adoção. Seu cunhado, Serguei Tschaikovski, resolveu ir para Berlim para ficar livre dos bolcheviques, levando Anastasia consigo. Porém, no mesmo dia em que chegaram a Berlim, Serguei desapareceu.
Desesperada, a jovem resolveu pôr fim a própria vida lançando-se nas águas do Landwehrkanal.
Para a jovem sem-identidade, o Governo Alemão, cautelosamente, forneceu-lhe documentos com o nome Anna Anderson.
Bem, a estória facilmente poderia cair em descrédito se não fossem as várias provas apresentadas. A primeira, certamente é a aparência física, pois a jovem era muito parecida com as fotos que haviam da grã-duquesa.
Ao ser examinados os pés da moça, percebeu-se que os joanetes dos seus dedos encontravam-se exatamente como descritos em relatórios médicos sobre a filha do Czar. Cicatrizes pelo corpo deixavam claro que sofrera grave atentado a tiros. Submetida a exames, radiografias de sua cabeça revelavam sérias lesões que poderiam ser decorrentes de agressões com a coronha de uma espingarda.
Uma pequena cicatriz no dedo médio da sua mão esquerda foi justificada pela jovem como o descuido de um lacaio ao fechar a porta de uma carruagem, quando a grã-duquesa ainda era criança. Parentes dos Romanov negaram que tal fato tivesse acontecido, contudo uma antiga serviçal da Família Real confirmou o fato.
Os membros vivos da família Romanov ficaram divididos quanto as declarações de Anna Anderson, alguns estavam realmente convencidos que ela era realmente Anastacia. Por exemplo, o grão-duque André, primo do Czar, aceitou-a e afirmou: "É, sem dúvida, a grã-duquesa!" Por outro lado a princesa Irene da Prússia, irmã da Czarina, ao vê-la, negou que fosse Anastasia, contudo não a via há mais de dez anos.
Em 1927, uma investigação particular financiada pelo irmão da Czarina, Ernest Luis, grão-duque de Hesse, apontou Anna Anderson como Franziska Schanzkowska, uma operária de uma fábrica polonesa de fogos de artifício. No entanto, os indícios apresentados não eram capazes de excluir a hipótese de Anna ser realmente a grã-duquesa.
Anna Anderson revelou que o irmão de André, o grão-duque Cirilo, havia viajado da Alemanha para a Rússia secretamente em 1916 quando os dois países estavam em guerra. Cirilo negou que o fato tenha ocorrido e acusou-a de ser uma embusteira. Contudo, em 1949, um comandante de um regimento na Guerra Russa, coronel Larski, declarou sob juramento, que a declaração de Anna Anderson era verdadeira e que o grão-duque Cirilo havia realmente empreendido tal viagem. No ano de 1933 o Tribunal de Berlim concedeu o direito de herança das propriedades do Czar Nicolau II a seis parentes vivos do mesmo; considerou que Anastasia estava morta. Em 1938, os advogados de Anna Anderson entraram com uma ação para anular a decisão de 1933, contudo, no ano seguinte, veio a II Guerra Mundial e a ação nunca foi apreciada.
Depois de décadas, a justiça alemã nada concluíra sobre o caso.
Sem poder afirmar que Anna Anderson era ou não Anastasia, uma corte de Hamburgo decidiu contra a pretensa Anastasia, em maio de 1968. Contudo as especulações continuaram.
Entre 1922 e 1968, Anna Anderson viveu entre os Estados Unidos e a Alemanha, bancada por sua notoriedade e vivendo em sanatórios ou asilos, até imigrar definitivamente para os EEUU (1968) onde se casou com Jack Manahan. Figura um tanto excêntrica que já se autodenominava futuro grão-duque do Império Russo.
Anna Anderson morreu em 1984 sem nunca conseguir provar que era realmente a grã-duquesa russa. Seu corpo foi cremado, contudo alguns restos mortais foram preservados (cabelos e partes do intestino) para futuros testes. Na sua lápide consta o nome Anastasia Manahan . . .



O MISTÉRIO SE COMPLICA
Durante a década de 70, um geólogo russo, Dr. Alexander Avdonin, baseado nos relatos de Yurovski (homem que comandou a chacina dos Romanov em Ekaterinburg) e cujo diário se encontrava com seu filho, foi capaz de encontrar a cova onde estavam os restos mortais da família Romanov e de alguns criados.
Como neste período ainda era crime sequer falar em Família Real na União Soviética, Avdonin e um pequeno grupo de amigos mantiveram em segredo o local da cova.
Em 1991 o regime da União Soviética ruiu de vez.
Com a mudança de governo, os Romanov "mudaram" novamente. Alexander Avdonin indicou o local da cova e foram retirados um total de nove corpos.
Os exames de DNA foram realizados nos Estados Unidos pelo Dr. Peter Gill do Forensic Science Service (FSS) e Dr. Pavel Ivanov, um geneticista russo. Os teste de DNA Nuclear revelaram que quatro corpos não pertenciam aos Romanov (o do médico e de três criados) e cinco pertenciam a família. Pelas idades e características, definiram serem: O Czar Nicolau II, a Czarina Alexandra e as filhas Maria, Olga e Tatiana.
Segundo a declaração da Dra. Ludmilla Karyakova, professora de arqueologia da Universidade do Estado de Ural e supervisora das escavações, os corpos desenterrados traziam terríveis marcas de violência e maltrato. Algumas das vítimas receberam disparos já caídas ao chão, seus rostos foram desfigurados, possivelmente a golpes de coronha e, ainda, sofreram ação de ácidos derramados a fim de esconder-lhes a real identidade.
A ausência dos corpos do pequeno Alexandre e de Anastasia aguçou a imaginação de muitos. Teriam sido poupados os dois menores? Teriam sobrevivido momentaneamente e enterrados posteriormente em outra cova? Anastasia estaria mesmo viva? Ou teria vivido seus últimos anos nos Estados Unidos?
FIM DO MISTÉRIO
Mais alguns anos se passaram sem respostas, contudo dez anos após a morte de Anna Anderson, exames de DNA mostraram que realmente Anna Anderson não pertencia a família Romanov. Por outro lado, seu código genético batia com de Karl Maucher, sobrinho-neto de Franziska Schanzkowska. A hipótese mais aceita pelos historiadores é que Anna, na verdade, era realmente Franziska Schanzkowska, uma camponesa polonesa que trabalhava numa fábrica de fogos de artifícios que teria explodido e causando-lhe as cicatrizes e lesões, por muitos, atibuídas à possível tentativa de fuzilamento. Mas o que teria aconteceu com a verdadeira Anastasia e seu irmão?
No verão de 2007, um grupo de arqueólogos amadores encontrou alguns fragmentos de ossos a apenas 70 metros da cova onde estavam os restos mortais retirados em 1991. Seguiu-se uma escavação oficial, conduzida pelo vice-diretor do Instituto Arqueológico da Região de Sverdlovk, Dr. Serguei Pogorelov, sendo encontrados 44 fragmentos de ossos e dentes.
No final de 2007 os restos mortais foram levados para exames realizados por antropólogos americanos e russos e testes de DNA Mitocondrial realizados em dois laboratórios distintos, Armed Forces DNA Identification Laboratory (AFDIL, Rockville, Maryland, USA) e Institute for Legal Medicine (GMI, Innbruck, Austria).
Em 2008 anunciou-se as conclusões e fim do mistério dos Romanov. Os dois últimos corpos encontrados eram realmente de Anastasia e Alexander. Toda a Família Real Russa, mais o médico da família e três criados foram brutalmente assassinados a tiros na adega da casa de Ekaterinburg em julho de 1917.
ANASTASIA NO CINEMA
A polêmica levantada por Anna Anderson levou a 20th Century Fox a produzir um longa-metragem intitulado “Anastasia”. A trama era baseada na dúvida levantada sobre a possibilidade de Anastasia estar viva. Contudo o enredo do filme baseava-se num golpe de um grupo de russos expatriados, cujo líder (Yul Brynner) tenta convencer uma jovem confusa (Ingrid Bergman), nos anos 20 na França, a se passar pela grã-duquesa. O objetivo logicamente seria por as mão na fortuna dos Romanov.
Em 1997 a 20th Century Fox volta ao mesmo tema com o desenho animado “Anastásia”. Desta vez com mais ousadia, cria o enredo da menina grã-duquesa Anastásia que foge com a avó antes de serem mortas pela turba bolchevique enfurecida. Por meio de uma passagem secreta no palácio, escapam e tentam pegar um trem, contudo a jovem se perde da avó e, ao chegar na estação com o trem já em movimento, tenta alcançá-lo, mas cai batendo a cabeça e perdendo a memória. A menina vai parar num orfanato, onde vive até os 18 anos. Ao sair do orfanato volta para São Petersburgo, onde conhece dois jovens, Dimitri e Vladimir. Estes dois intencionam levar uma impostora para Paris a fim de receber a recompensa da avó de Anastásia, que sabe que ela está viva. No desenrolar da trama, quando a jovem e Dimitri já se encontram apaixonados, este descobre que a jovem é realmente a verdadeira herdeira do trono russo. A partir de então enfrentam alguns problemas para convencer a avó de que ela é a verdadeira Anastasia e, depois, enfrentam o vilão Rasputin, que quer acabar com a descendência dos Romanov.

Marco Túlio Freire Baptista