29 de set. de 2010

Um pouco de História: Os Árabes Muçulmanos


Quando pensamos no mundo árabe o que vem a cabeça...terrorismo, burca, mulheres multiladas, mas será que o mundo árabe é somente isso? Creio que não. Porém nem todos se dão conta que quase todos os árabes são muçulmanos, mas nem todo muçulmano é árabe.
A religião muçulmana nasceu na Arábia pela pregação do profeta Maomé no séc. VII da nossa era, mas depois atingiu regiões mais distantes como a China, Índia, Afeganistão, Irã, Turquia e grande parte da África negra.
A península arábica possui um clima desértico fazendo os povos beduínos locomover-se em busca de novas pastagens. 
Antes do surgimento da civilização islamica, o povo árabe estava dividido em dois grandes grupos: os árabes do deserto, habitando o interior da península e os árabes das cidades a sudoeste da península. A unidade estava na língua, pois as tribos eram o fundamento da vida social e política e cada tribo se identificava com um bairros compacto e isolado dos outros unidos pela solidariedade, assim, a segurança de cada um é uma questão de interesse coletivo. As tribos se uniam para vingar uma agressão ou ofensa contribuindo para, de um lado reforçar laços de união entre seus membros, mas de outro acentuava o particularismo.
A Palestina estava ligada ao Iêmem por uma rota comercial o que atraía beduínos de toda a região, conhecida como "a rota de Sabá". No caminho desta rota, com objetivo de atrair mais beduínos, cidades construiam templos de adoração para os deuses de cada tribo, as "Casas de Deus" e promoviam feiras anuais quando ocorria a trégua entre as tribos, necessária para as transações comerciais.
Iatreb uma das cidades principais torna-se basicamente agrária, enquanto Meca se torna comercial. Em Meca se encontra a Caaba, provavelmente um meteorito que atraia uma enorme leva de peregrinos.


Maomé nasceu em Meca, provavelmente em 570, da tribo dos coaxitas, ficou órfão muito cedo e foi criado por um tio, iniciando comércio nas caravanas. Em suas viagens entre a Síria e Palestina, Maomé tomou contato com as grandes religiões monoteístas da época: o judaísmo e o cristianismo. Na Pérsia, ele conheceu o masdeísmo. Com quase quarenta anos inicia sua peregrinação religiosa numa síntese dos princípios da religião judaica, cristã e masdeísta misturada a um conjunto de práticas extraídas dos costumes religiosos árabes. 
Assentada num monoteísmo absoluto, a religião islâmica impõe a todo convertido a obrigação de se sujeitar   à vontade divina e afirmação da fé por cinco práticas fundamentais: 
- chahada  - o fiel muçulmano deve recitar a fórmula :  "o único Deus é Aláh, e Maomé o único profeta", tendo plena consciência do significado e das implicações desta expressão.
- salat -  preces públicas e coletivas, obrigatórias, são orações feitas em Mesquitas onde um certo número de gestos são feitos com o rosto voltado à Meca. Este ritual por ser feito em templos garante uma certa unidade social e política, inexistente nas tribos.
- zakat - imposto destinado aos pobres, administrado por órgãos públicos centralizava as contribuições dando mais autonomia a cidade.
- ramadãn - ritual de jejum onde nada é ingerido durante o dia.
- hajj - onde pelo menos uma vez na vida o fiel deveria fazer uma peregrinação a Meca (caso tenha condições para isso).
Complementando os preceitos de fé contidos no Alcorão, existe a sunna, lei oral do Islão, que foi organizada pelos "Doutores da Fé" após a morte do profeta. A sunna estabelece bases e normas tradicionais da jurisprudência da nova sociedade islâmica. Um desses princípios afirma a necessidade de combate aos infiéis por meio da Guerra Santa.ou djihad, onde todo fiél deveria converter os infiéis ao islamismo.
Fazendo um paralelo com Roma do mesmo período, o Papa e a igreja católica exerciam forte influência no império e suas fronteiras já estavam frágeis devido a constantes invasões.
Com a morte de Maomé os membros mais influentes da cidade escolhem um califa parente de Maomé para ficar em seu lugar. Brigas internas a parte, a liderança ficou com os Omíadas originários de Meca. A expansão árabe se estende por vários paises, porém, ao contrário do Império Romano, os árabes mantinham a cultura local das cidades invadidas, possuiam um centro atrativo para estudantes de todas as partes do Islã,  criaram uma escola de tradutores onde obras gregas já traduzidas em siríaco, copta,e hebraico eram traduzidas para o árabe. Os professores e mestres deveria ter estilo erudito porém sem  pedantismo, enquanto em Roma o fato de falar latim já diferenciava a pessoa dos demais, um status social. Observe as diferenças.
Um grande contraste se dá quando comparamos de 766 a 809 quando houve, no apogeu da civilização islâmica, o refinamento da cultura e o florescimento das artes e das letras, enquanto no mesmo período Carlos Magno buscava o renascimento carolíngio voltado as imposições da igreja. Uma cultura investia, também, na razão e outra ao culto, ao mito e aos medos.
O islamismo é uma das maiores religiões do mundo, se não me engano a segunda, perdendo apenas para o catolicismo em números de fieis. Mas o que fez tantas pessoas aderirem ao islamismo? A resposta está na dificuldade em se ler a bíblia e interpretá-la, pois neste momento apenas os padres sabiam ler, e as missas  rezadas em latim, o que dificultava ainda mais o entendimento dos cristãos, assim, a população ficava a mercê das interpretações pessoais dos párocos. Além desses fatores, os impostos seriam menores para aquele que falasse a língua árabe. A moeda de maior circulação era cunhada com inscrições em árabe, assim, em forma de  símbolos e com benefícios, sem usar a violência (apenas quando necessário) a expansão árabe cooptou adeptos de várias regiões vindos por livre e espontânea vontade. Para finalizar este post  puxo uma reflexão: o ocidente foi mesmo o berço da civilização ? Não será essa  uma construção europeia numa negativa à sabedoria oriental, que ao contrário de queimar livros, numa tentativa de reter as ideias, assimilava o melhor das culturas conquistadas ?
É fato que o radicalismo islâmico vindo dos descendentes do profeta, exacerba toda nossa tolerância cultural de respeito ao próximo. Não tenho um conhecimento muito profundo sobre o islamismo e também não é o foco do post. A grande questão são os avanços científicos encontrados nos árabes como o profundo conhecimento em astronomia, farmácia, as descobertas em trigonometria, a arte ornamental dos arabescos...


" Não devemos nos envergonhar de admitir a verdade de qualquer fonte que nos venha, mesmo que seja trazida por gerações anteriores e povos estrangeiros. Para aquele que busca a verdade , nada há de mais valioso que a própria verdade" ( Al- Kindi- 801 - 866) - introdutor da História da Filosofia Islâmica. 


23 de set. de 2010

Alguma coisa acontece no meu coração...

Agora em definitivo, estou de volta a São Paulo, depois de 10 anos morando no interior paulistano. Antes de mais nada, queria agradecer, de coração, aos grandes amigos que fiz nesta região. Pessoas muito especiais, de profunda relevância para meu amadurecimento pessoal. Sou historiadora cultural, portanto, todas as diferentes culturas me interessam. Conhecer o interior e suas particularidades enriqueceu, e muito, minhas experiências pessoais que serão aplicadas em minha vida acadêmica. Garanto apenas que são pessoas muito bacanas, inteligentes que têm muito a oferecer e ensinar aos moradores das grandes metrópoles. Um dia ainda pretendo voltar a morar lá, no interior paulista.
Depois de uma breve adaptação e uma mega correria para colocar as crianças na escola, em pleno fim de ano, pude finalmente dedicar uma tarde pra mim. Pensa que a vida é fácil?
Fui à FAAP (Fundação Armando Alvares Penteado), próximo ao Estádio do Pacaembu para ver a exposição de Nelson Leirner e outros artistas. Fui empolgadíssima, pois, sei que pelo estilo dos artistas que expunham, os happenings são de praxe. Seguindo esse conceito, a arte tem que interagir com o público, sendo assim, eu participaria de tudo exposto. Fiquei alucinada com essa possibilidade.
Logo no saguão deparamos com várias estátuas de Aleijadinho, mais precisamente "Os Profetas". Fantástico.


Depois de vislumbrar tanta beleza, achei a sala que queria ir, mas fui direcionada para o lado oposto à sala para guardar minha bolsa no guarda volumes, abriu-se uma porta de vidro automática que me deixou num a sala muito escura de frente a uma obra semelhante a uma cascata, porém, de letras. A exposição se trata de "Memórias Reveladas" unindo a arte e tecnologia, de maneira lúdica e interativa. Quase tudo em 3D. Fazia tempo que eu, sozinha, não me divertia tanto. 
A cascata de letras, simplesmente me seduziu. Quando entrei, vi nomes de artistas, teóricos e participantes do circuito das artes descendo a parede em forma de cascata, depois escorrendo pelo chão até chegar aos  meus pés, comecei a andar e "entrar" neste rio cada vez mais pra dentro, e quando percebi estava de frente com a parede, completamente absorvida naquele universo diferente. Parecia um transe., um estado de hipnose. Não sei explicar mas essa cascata mudou alguma coisa dentro de mim. Peço perdão ao artista por não poder dizer agora seu nome, não anotei, mas prometo pesquisar e lhe dar os merecidos créditos.
No teatro, havia trechos de peças em hologramas, protagonizadas por Marília Pêra, Eva Vilma entre outros. Tinhamos a impressão de estar numa sala de teatro vendo o(a) protagonista de verdade e ao vivo. A tecnologia voltada para o bem faz coisas inacreditáveis. 
Fui a exposição "Tékhne" que em Grego significa Arte, maestria, destreza. Seria capaz de contar cada obra que vi, mas acho que as experiências são únicas e individuais, sendo assim, aconselho todos a prestigiarem tais eventos.
Havia uma sala escura, bem escura, apenas com uma projeção de uma imagem distorcida direcionada a um chumaço de algodão, porém, colocando a palma da mão entre a projeção e o chumaço de algodão, aparecia a imagem de uma pessoa nadando, na palma de nossa mão e ao fundo, propositalmente, um som de oceano, de ondas chegando na praia. Outra obra era uma cama gigantesca onde deitada eu olhava um espelho pendurado no teto com projeções de várias imagens, como o Globo terrestre ou conchas coloridas sendo minha imagem inserida neste universo. Percebe como o espectador faz parte da obra. Tudo isso não seria possível sem Marcel Duchamp.

Infelizmente nada vi de Nelson Leirner, ele foi homenageado, porém não havia nenhuma obra sua. Particularmente achei um pecado isso, mas enfim. Fiquei mais de três horas indo e vindo dentro do MAB (Museu de Arte Brasileira)- FAAP, cansei de andar, mas valeu muuuito. Fantástico. As exposições estão de parabéns. Eu recomendo.


Visitei depois o Museu da África, mas esta história fica para a próxima postagem.