O presente artigo tem como função induzir o leitor a refletir acerca de como o poder institucional tem poder de manipular o ensino, submetendo-o a interesses de alguns setores da sociedade.
Como parte do processo de ensino, o historiador atual deve tomar cuidado para não deixar transparecer sua posições sobre os acontecimentos, mas há fatos que não dá para serem ignorados.
Após o Brasil se tornar um estado independente e monárquico, a escola era um lugar destinado a ler, escrever e contar. Os professores da escola elementar deviam, segundo os planos de estudos propostos em 1827, ultilizar, para o ensino da leitura, entre outros textos, "a Constituição do Império e História do Brasil", com objetivo de exercitar a leitura e inserir nos meninos o espírito de aventura dos grandes heróis e o senso moral por meio de deveres com a Pátria e seus governantes. Sem esquecer que neste período a História do Brasil estava vinculada a Europa, descoberta por portugueses, branco, de olhos claros, sendo a história indígena descartada completamente, como se no Brasil a história começasse à partir do seu descobrimento.
Os conteúdos passaram a ser elaborados para construir uma idéia de nação associada à pátria , integradas como eixo indissolúvel.
Nas escolas, o ensino de História Sagrada fazia parte de doutrina religiosa, sendo ela mais difundida que a história laica, mesmo após a separação da igreja com o Estado.
A moral cívica vinculava-se a moral religiosa.
Educadores defendiam como modelo pedagógico a narração da vida dos santos e heróis profanos, de nome História biográfica.
Com a abolição da escravatura , no final da década de 80 do século XIX, o aumento populacional proveniente do intensificado processo de imigração e urbanização ampliaram os debates políticos sobre a concepção de cidadania; havia a necessidade do aumento de número de imigrantes que deveriam gostar da "nova terra" e atrair mais imigrantes, assim os direitos sociais e civis foram estendidos a um número cada vez maior de pessoas.
A escola ganha um novo destaque pela necessidade de aumentar o números de alfabetizados, condição fundamental para aquisição da cidadania política.
O aumento de alunos filhos de imigrantes levou os programas curriculares a sedimentar uma identidade nacional por meio da homogeneização da cultura escolar.
O foco era imitar a história européia visando a modernidade por meio da obediência a hierarquia, sem contudo, incluir nos programas curriculares a participação deles na construção histórica da Nação.
O fortalecimento do sentimento nacionalista, fez surgir as "inveções de tradições" (Eric Hobsbawn) , semelhante ao que ocorreu na Europa, os símbolos que representam o país como bandeiras (ver neste mesmo blog "A cremação das bandeiras), Hinos, o sentimeno patriótico são exemplos disso.
Acentuada principalmente durante o Estado Novo (olha ele de novo) de Vargas, o nacionalismo se torna uma doutrina e buscando raízes na própria terra, desvinculando-se da História européia, o mestiço, a feijoada, o samba, passam a ser referências do Brasil (ver neste mesmo blog Saudosa Maloca).
Havia historiadores e professores que se opunham a uma história exclusivamente de uma elite branca com os olhos voltados para Europa e para a evocação de uma mestiçagem que seguia passiva o rumo dos acontecimentos.
Grupos anarquistas que lideravam os grupos operários em suas lutas por direitos trabalhistas criaram em várias cidades, as Escolas Modernas em que o ensino se voltava contra a exarcebação do patriotismo e o culto a pátria, os quais entre outros propósitos incentivava e justificava o militarismo e as guerras. Vargas, sabendo do perigo que isso poderia representar para seu projeto de Estado Novo, disciplinador e nacionalista, fechou todas essas escolas e fundou o Ministério da Educação, organizando o sistema escolar de maneira centralizada e os conteúdos obedecendo normas mais rigorosas e gerais.
À partir daí a história ensinava o culto aos grandes heróis nacionais sendo Tiradentes o herói máximo.
Na forma de ensinar, usava-se o método mneumônico, pura decoreba que impunha perguntas e respostas com imagens associativas, caso respondesse errado, o aluno recebia a palmatória e as festas cívicas com a participação de autoridades e pais.
Pausa para uma reflexão; Quando em posts anteriores vimos "o que é representação social" fica claro que a representação acaba sendo uma arma, dependendo de quem a manipula.
Michel Foucault diz uma frase que acho simples e direta para o entendimento "A representação social não é uma cópia do real, mas uma construção feita à partir dele".
As Instituições sabem bem tirar proveito disso, mobilizado as massas de acordo com seus ideais políticos.
A escola claramente trabalhava para doutrinar o aluno a se tornar um cidadão a serviço da Pátria, nunca esquecendo de atender a elite dominante, tanto que o latim diferenciva uma elite social do povo iletrado e a formação moral, cujo, os valores eram dissiminados como universais, eram praticados exclusivamente pela elite. As disciplinas foram organizadas para atender objetivos sociais e de formação de valores.
Com o surgimento do capitaismo, o mundo industrial era incorporado por setores da nossa elite, que questionou o método humanístico de ensino e pessionou mudanças no ensino. Era necassário incorporar ciências exatas; Matemática, Física e Química. Compôs-se então o curriculo científico.
"Os métodos e conteúdo de ensino das disciplinas correspondentes provinha de projetos norte-americanos e estavam visivelmente direcionados para a formação de elites voltadas para a produção tecnológica, as quais deveriam estar submissas aos interesses do capitalismo, assim como aos valores propugnados pela Guerra Fria" (Circe Bittencourt)
Na área de humanas, acentuava-se a necessiade de neutralidade diante da história recente por parte do professor , justificada pela objetividade fornecida por uma História de caráter científico, assim como em exatas.
Os métodos, baseados nesta concepção de postura professor, passaram a ser considerados "técnicas de ensino".
Assistir a um filme correspondia a análise da linguagem do ponto de vista artístico, mas sobretudo, a escolha da obra cinematográfica era determinda pelo conteúdo, como no filme Marat/Sade, baseado na peça teatral de Peter Weiss, no qual se debate o tema da Revolução Francesa sob uma ótica diversa para a compreensão do "Período do Terror" de Robespierre.
Compreende-se então o fechamento, pelo Regime Militar, dessas escolas que promoviam uma renovação do ensino no sentido de articular conteúdo e método.
E agora, será que não estamos sendo "usados"a não interferir num sistema vigente, que busca profissionais técnicos para o mercado de trabalho, em não emitir opiniões sobre os fatos.
Todas as revoltas surgem em núcleos pensantes, seja ela indígena, elitica, artística, operária, surgiram em locais onde pessoas que estavam por dentro do assunto debatiam e disseminavam suas idéias. Não podendo calar o pensamnto de um intelectual, que se afoga em livros, fazê-lo omitir sua opinião, não é uma forma de calá-lo ?
Michel De Certeau defende que as pessoas são livres para ressignificar tudo, para ele não existe estruturas sociais, no entanto, para Pierre Bourdieu as ressignificações são crias de sua condição social.
Agora, tire você mesmo suas conclusões. Comente.
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