Sobretudo, gostaria de pedir compreensão aos meus amigos seguidores pelas faltas de postagens, porém, justifico as ausências por razões de saúde. Alguns problemas de saúde estão me impedindo de postar, não sei por quanto tempo. Assim que puder eu volto. Desculpem, mas é mais forte do que eu.
Faro Fino
O tempo não tem Ser, posto que o futuro ainda não o é, que o passado não é mais, e o presente não permanece. O texto é o filho pródigo que jamais retorna.
11 de nov. de 2011
21 de set. de 2011
África e America - Fatores culturais no processo de civilização
A África é um continente com grande diversidade étnica, cultural, social e política. O Egito foi provavelmente o primeiro estado a ser formado no continente africano há cerca de 5000 mil anos. Note que algumas pessoas não sabem que o Egito está na África, como se quisessem desvincular um lugar tão lindo de um povo, manipuladamente esteriótipo, violento, dados à guerras, escravista. Descobri a histórias dos povos Banto ou Bantu, unidos pela etnolinguística, estão localizados de Camarões até a África do Sul e ao oceano Índico, são cerca de 400 subgrupos étnicos diferentes unidos pela língua materna, a língua da família banta.
Antes da colonização viviam da agricultura, da pesca e já conheciam a metalurgia. São desta região os negros escravos que foram para São Paulo e Rio de Janeiro. As maneiras de colonizar, por seu objetivo inicial de pura exploração, são muito similares para todos os povos colonizados, porém, o fator cultural foi determinante. Todas as formas de sociedade se pautam em regras normativas que controlam aquela nação, normas que podem ser estatais, religiosas ou míticas. São muitas as histórias que fazem parte da cultura popular bantu, porém, todas têm em comum a crença de que seus ancestrais tem poder para auxilio ou castigo, interferindo diretamente na vida de membros da comunidade. Como os ancestrais, que detém o poder de decisão, são parentes mortos, todos os esforços se concentram num bem comum, num bem voltado àquela comunidade. Assim, quando alguém na aldeia sofre, provavelmente, é porque aborreceu algum morto, que como forma de castigo, faz aquela pessoa sofrer. Os primeiros contatos com os europeus ocorreu no século XV. Há um livro de uma historiadora (perdoem minha falha, mas não lembro seu nome, prometo buscar informações e postar no blog) onde ela afirma que para esses povos, o mar e o bosque significam a morte, pois, nos bosques enterravam seus mortos e o mar viam como uma imensidão desconhecida e assustadora. Ao verem os navios apinhados de gente, vindos do mar, pensaram ser os mortos chegando do além. Da mesma forma Moctezuma II, imperador dos Astecas, considerou ser
Fernando Cortéz a personificação do Deus Quetzalcóatl, e seus cavalos, animais não conhecidos desses povos, portanto não pertencentes a sua semiótica, parecendo, um corpo só, como um centauro. Conheceram os espanhóis no século XVI, se alinharam à eles e trabalharam como escravos, extraindo metais preciosos, substituídos, quando morriam, como peças de engrenagem até o fim desta civilização. Claro que após o primeiro contato as verdadeiras intenções apareceram, mas a submissão ao mítico, mesmo que inconsciente, foi determinante facilitando, e muito, a aproximação do colonizador.
Antes da colonização viviam da agricultura, da pesca e já conheciam a metalurgia. São desta região os negros escravos que foram para São Paulo e Rio de Janeiro. As maneiras de colonizar, por seu objetivo inicial de pura exploração, são muito similares para todos os povos colonizados, porém, o fator cultural foi determinante. Todas as formas de sociedade se pautam em regras normativas que controlam aquela nação, normas que podem ser estatais, religiosas ou míticas. São muitas as histórias que fazem parte da cultura popular bantu, porém, todas têm em comum a crença de que seus ancestrais tem poder para auxilio ou castigo, interferindo diretamente na vida de membros da comunidade. Como os ancestrais, que detém o poder de decisão, são parentes mortos, todos os esforços se concentram num bem comum, num bem voltado àquela comunidade. Assim, quando alguém na aldeia sofre, provavelmente, é porque aborreceu algum morto, que como forma de castigo, faz aquela pessoa sofrer. Os primeiros contatos com os europeus ocorreu no século XV. Há um livro de uma historiadora (perdoem minha falha, mas não lembro seu nome, prometo buscar informações e postar no blog) onde ela afirma que para esses povos, o mar e o bosque significam a morte, pois, nos bosques enterravam seus mortos e o mar viam como uma imensidão desconhecida e assustadora. Ao verem os navios apinhados de gente, vindos do mar, pensaram ser os mortos chegando do além. Da mesma forma Moctezuma II, imperador dos Astecas, considerou ser
Fernando Cortéz a personificação do Deus Quetzalcóatl, e seus cavalos, animais não conhecidos desses povos, portanto não pertencentes a sua semiótica, parecendo, um corpo só, como um centauro. Conheceram os espanhóis no século XVI, se alinharam à eles e trabalharam como escravos, extraindo metais preciosos, substituídos, quando morriam, como peças de engrenagem até o fim desta civilização. Claro que após o primeiro contato as verdadeiras intenções apareceram, mas a submissão ao mítico, mesmo que inconsciente, foi determinante facilitando, e muito, a aproximação do colonizador.
Vejam se os Astecas tinham chances diante de cavalos e canhões.
24 de ago. de 2011
Homenagem merecida - Sandra Jatahy Pesavento
Algumas pessoas tem o poder de nos tocar e marcar nossas vidas de maneira tão definitiva, que é possível renascer em nós, outra pessoa. Por vários métodos a ideologia de cada um pode se manifestar, contaminar e contagiar muitos que nos são contemporâneos.
Quando decidi fazer pós graduação, tendo a cultura como foco principal de pesquisa, a primeira obra que li a respeito foi História & História Cultural - Dra. Sandra Jatahy Pesavento, da qual posso garantir ter mudado toda minha visão pseudo - marxista, não que eu fosse ortodoxa, nunca fui, mas porque nunca tinha pensado as coisas daquela forma meio complexa, meio simples, que o conceito cultural trás. Parece que tudo ficou mais fácil de compreender, o outro já não é tão misterioso. Li esta obra durante a elaboração do meu artigo para conclusão de curso, sobre a influência do jornal A Comarca de Penápolis sobre a comunidade daquela região, no interior de São Paulo. De fundamental importância, o livro me ajudou a compreender a construção da memória coletiva, e como esta construção trabalha em benefício das instituições, implantando por meio de símbolos, regras normativas. Como um bandeirante, Sandra me abriu os olhos pra um lado da floresta que eu não sabia que existia, e que de tanta paixão pelo tema, me especializo. Ela mudou a minha ideologia. Como disse no início do post, há pessoas que tem esse poder.
Confesso minha falta de informação, mas somente há pouco tempo soube que minha fada madrinha das ideias havia falecido. É com muita tristeza que coloco este post, sendo esta a minha maneira de homenagear uma pesquisadora de tanto respeito e talento, que teve a vida ceifada por uma morte tão prematura. Dois meses antes de sua morte, fiz uma postagem aqui no blog falando sobre seu estado de saúde, tinha certeza que não seria nada grave. Me enganei.
"Prezados Colegas,
É com profunda consternação que cumpro o doloroso dever de comunicar o
falecimento da Coordenadora do GT Nacional de História Cultural, Sandra
Jatahy Pesavento, ocorrido hoje, 29/03/2009, em Porto Alegre. O sepultamento
ocorrerá às 19:00h.
Neste momento de profunda dor e sofrimento, devemos recordar não apenas a
grande historiadora, professora, pesquisadora que Sandra foi. O legado de
seu trabalho permanecerá entre nós e alcançará futuros historiadores pela
força de suas idéias e de sua ousadia intelectual.
Entretanto, Sandra Jatahy Pesavento foi muito mais! Estamos imensamente
desolados e por isso mesmo não posso deixar de registrar publicamente a
grande amiga, companheira, parceria de trabalho e sempre aberta a acolher a
todos que dela se aproximassem.
Escrevo isso em meu nome e em nome de meus parceiros da Comissão Científica
do GT Nacional de História Cultural - Alcides Freire Ramos, Antonio
Herculano Lopes, Maria Izilda Santos Matos, Mônica Pimenta Velloso, Nádia
Weber, Maria Luiza Martinin - dentre tantos que, sem dúvida, se associarão a
nós nessas palavras.
De minha parte, perdi uma grande amiga e uma inspiração de dignidade,
respeito e ética.
Rosangela Patriota Ramos
GT Nacional de História Cultural"
Sandra Jatahy Pesavento - (Porto Alegre, 1945 - 2009)
É com profunda consternação que cumpro o doloroso dever de comunicar o
falecimento da Coordenadora do GT Nacional de História Cultural, Sandra
Jatahy Pesavento, ocorrido hoje, 29/03/2009, em Porto Alegre. O sepultamento
ocorrerá às 19:00h.
Neste momento de profunda dor e sofrimento, devemos recordar não apenas a
grande historiadora, professora, pesquisadora que Sandra foi. O legado de
seu trabalho permanecerá entre nós e alcançará futuros historiadores pela
força de suas idéias e de sua ousadia intelectual.
Entretanto, Sandra Jatahy Pesavento foi muito mais! Estamos imensamente
desolados e por isso mesmo não posso deixar de registrar publicamente a
grande amiga, companheira, parceria de trabalho e sempre aberta a acolher a
todos que dela se aproximassem.
Escrevo isso em meu nome e em nome de meus parceiros da Comissão Científica
do GT Nacional de História Cultural - Alcides Freire Ramos, Antonio
Herculano Lopes, Maria Izilda Santos Matos, Mônica Pimenta Velloso, Nádia
Weber, Maria Luiza Martinin - dentre tantos que, sem dúvida, se associarão a
nós nessas palavras.
De minha parte, perdi uma grande amiga e uma inspiração de dignidade,
respeito e ética.
Rosangela Patriota Ramos
GT Nacional de História Cultural"
Sandra Jatahy Pesavento - (Porto Alegre, 1945 - 2009)
9 de ago. de 2011
Caldinho de feijão
Olha o Sérgio Buarque de Hollanda "falando" novamente. É possível identificar aspectos de sua teoria a respeito da "culturas amalgamadas", quando, em sua obra Raízes do Brasil, afirma: A experiência e a tradição ensinam que toda cultura só absorve, assimila e elabora em geral os traços de outra cultura, quando esses encontram uma possibilidade de ajuste aos seus quadros de vida". Digo isso analisando a história do feijão quando postava uma receita no outro blog, de culinária, que tenho - http://aninhanacozinha.blogspot.com . Daí você pensa: Nossa, tudo ela põe história no meio? Eu te respondo: sim. Sabe aquela música do Osvaldo Montenegro - O Chato - ...eu sou um chato, meu Deus não me aguento, só me tacando no mar...Mas voltando ao que interessa, o feijão, base primeira da minha receita, como não querer saber sua trajetória?
Arqueólogos dizem haver vestígios do consumo do feijão na América do Sul a cerca de 10 mil anos, há indícios também do feijão ter sido consumido na Grécia, muitas são as especulações. Os índios latinos comiam feijão com farinha de mandioca. Os portugueses começaram a consumir adicionando elementos conhecidos de sua cultura, como linguiça, pé e orelha de porco. Essa junção origina a feijoada, comida de escravos nas senzalas. Percebe como Sérgio Buarque acerta ao afirmar que uma cultura só sobrevive quando pode ser amalgamada a outra cultura. Os índios foram sufocados, nunca compreenderam a lógica do capital. O português deu seu jeitinho adicionando ingredientes e o africano incorporou a sua cultura.
Em homenagem a todos os chatos que adoramos, Osvaldo Montenegro - O Chato
4 de ago. de 2011
Nova Ordem Mundial. Será?
Até onde a crise americana pode afetar o mundo globalizado? É fato que os EUA está perdendo o poder de fogo, já não é mais a maior potência mundial, não é mais respeitado como a "polícia do mundo", deixou de "dar as cartas". Obama tenta desesperadamente se manter no poder e tirar a imagem, que muitos ainda mantém, de governo incompetente. Bush foi o grande contribuidor pela queda do império econômico americano, suas guerras de vingancinha não levaram a nenhum benefício, pelo contrário, foi muito dinheiro metendo o nariz onde não foi chamado (aproximadamente 5 trilhões de dólares) . Seu pais desmoronando e ele querendo levar democracia em todos os cantos do mundo (Democracia - Direito Universal - sendo universal todos têm direito, mesmo que não queiram essa "democracia" ocidental, é direito, vai na marra). Lógico, de acordo com seus interesses.
Mas parando para raciocinar um pouco, Roberto Da Mata exemplifica algumas formas de jeitinho brasileiro*. Alguns usam o "sabe com quem está falando" como forma de sobrepor-se ao outro numa tentativa de, alguma forma, levar algum tipo de vantagem. Esta é uma forma extremamente agressiva, só podendo ser feita por alguém com poder de influência ou dinheiro.
Outra forma é o tipo simpático, que se dá bem com todos pra não ter problemas. Que busca algum fato incomum pra criar vínculos, como: "olha, somos da mesma cidade" ou "também torço pra este time".
Será que o jeitinho é só brasileiro? Lembram - "Temos que combater o terrorismo com terror" - não parece um anúncio ao mundo pra ter medo de terrorismo, que acontece em qualquer lugar, em qualquer hora. Influencia os outros, ou não?
E outro exemplo chamando toda a Nação a se unir em busca de um bem comum - Yes, we can. Ou quando disseram assim para o Presidente mais pop do Brasil: Você é o cara. Simpático, não?
Bush deixou a economia de lado pra se concentrar em guerras. A base da economia americana é de consumo interno, as pessoas compram pra ajudar a empresa americana, que se fortalece e enriquece o pais. Diante de uma crise econômica, com demissões em massa e a divida do pais com empresas estrangeiras crescendo, como fortalecer o consumo interno? Por outro lado corre a China que cresce, mas têm muito dinheiro investido em papéis do tesouro americano. Os produtos chineses são de baixa qualidade, feitos com mão de obra barata, com uma classe trabalhadora oprimida e desarticulada.
Será que logo teremos outra "Nova Ordem Mundial"?
22 de jul. de 2011
Entendendo a Arte Conceitual
O projeto que levou a criação da identidade visual da 29° Bienal de São Paulo, ocorrida em setembro de 2010, auxilia o entendimento artístico conceitual da arte contemporânea. Design e História em harmonia, num paradoxo de ruptura e encorporação de tendências artísticas anteriores. Onde a arte quer chegar, o que ela quer dizer, são dúvidas que esses vídeos vão ajudar a esclarecer.
A Identidade da 29° Bienal de São Paulo
"Há sempre um copo de mar para um homem navegar" (Jorge de Lima)
"Há sempre um copo de mar para um homem navegar" (Jorge de Lima)
1° PARTE
2° PARTE
17 de jul. de 2011
Raízes do Brasil - Sérgio Buarque de Hollanda
Me aventurei na difícil tarefa de compreender melhor o clássico livro Raízes do Brasil, escrito em 1936 por Sérgio Buarque de Hollanda, um dos mais importantes historiadores brasileiros, onde, profundamente busca o real, o Brasil verdadeiro doa a quem doer, mostra um pais feio, desigual, onde a fome está ligada ao passado agrário. Desvaloriza valores ibéricos, vê na colonização e na vinda da família real portuguesa, a fonte de nosso atraso. Crê num Brasil industrializado e democrático, onde, trabalho com mérito é modernidade e progresso. O livro requer paradas para reflexões, assim, vou postar por capítulos, ou por etapas. Na obra o autor identifica nas nações espanholas e portuguesas uma cultura de personalidade. Suas virtudes ou seu valor pessoal como homem, provém da menor dependência possível do outro, visão sustentada por poetas, moralistas e até pelo governo - a sociedade pensa desta forma. Cada qual é filho de si mesmo e sua competência é o que te trará estabilidade.
Se fizermos uma pequena reflexão desta afirmação, observamos que são nações que desde cedo se lançaram ao mar em busca de aventuras e colonizações, e que esses homens quando voltavam, eram recebidos e ovacionados como heróis. Fica mais fácil assim entender essa cultura da personalidade.
Entre iberos os níveis hierárquicos eram pouco, ou quase nada respeitados. Diferente dos europeus, as estruturas sociais eram frouxas, facilitando a mobilidade social fosse por casamento ou por enriquecimento (são natos comerciantes, enriquecem fácil).
Na Europa, a ascensão de uma nova burguesia, pra se sustentar, muda toda uma mentalidade vigente. Derrubam monarcas, criam na religião o enobrecimento pelos esforços de trabalho. O trabalho não é esforço de escravo, ele trás o pão de cada dia, é nobre, Deus recompensa quem se esforça. Foi o ocorrido no protestantismo sustentado por Calvino seguido de Lutero. A riqueza vem do merecimento do trabalho. Por não haver resistência na mobilidade social, em Portugal e Espanha não houve necessidade da criação de uma nova mentalidade. Individualistas, suas decisões dependem de seu livre arbítrio, atributo que não beneficia o coletivo. Por não pensar coletivo, deixam as decisões para "alguém" organizar a sociedade, e neste quadro o governo se apresenta como unificador, mantendo a política como algo externo, força maior exterior, não algo diretamente ligado a vida das pessoas que deveriam participar das decisões (perfeitas pré-condições para o aparecimento de ditaduras militares). Nesta visão individualista fica inviável pensar no trabalho voluntário voltado ao coletivo. Para isto acontecer tem de haver uma harmonia entre os interesses, e segundo o autor, esta harmonia só ocorre quando há vinculação de sentimento, mais do que relações de interesse - no recinto doméstico ou entre amigos.
Pausa para reflexão. Eu acho que alguns leitores agora arrepiaram com a afirmação, mas, pensemos...
Já ocorreu de você estar comendo numa lanchonete e alguma criança te pedir um lanche e você não dá (pensa assim...ai, o governo tem que ajudar, se todos derem dinheiro eles gastam com drogas, etc,etc...Isto é um problema CRÔNICO social, ou seja, todos os dias olhamos esta cena que não comove mais, certo?). Muito bem, porém, lá no Rio Grande do Sul as chuvas alagam as cidades e devastam casas e arrastam tudo deixando milhares sem casa, sem comida, sem dignidade, e o Brasil (que Deus conserve) manda ajuda de todos os lugares, até pessoas de baixa renda participam.
Quer outro exemplo, as procissões. Os tapetes de borra de café, casca de ovo feitos durante a procissão de Corpus Cristi, são verdadeiras obras de arte. E no enterro daquela tia chata, que quando o parente liga e diz: "Fulana morreu", saem todos correndo praticamente deixando a bolsa pra trás, como se a defunta ainda precisasse de primeiros socorros.
Eu não disse nada, e não vou dizer, peço apenas pra você refletir com seus botões.
A exaltação extrema da personalidade, paixão principal que não tolera compromissos, vê quase como heroísmo a renúncia e essa personalidade em vista de um bem maior. O resultado é parecer não haver outra sorte de disciplina que não seja a centralização no poder e a obediência.
Neste primeiro capítulo Sergio Buarque conclui que " A experiência e a tradição ensinam que toda cultura só absorve, assimila e elabora em geral os traços de outra cultura, quando esses encontram uma possibilidade de ajuste aos seus quadros de vida". {Pensemos nos ameríndios, nos Incas, Astecas, que não absorvendo a nova cultura foram dizimados até sobrar somente pó e vestígios desse povos}
No caso brasileiro, mesmo que desagrade aos nossos patriotas, a tradição espanhola e principalmente a portuguesa, estão bem vivas para nutrir uma alma comum. Podemos dizer que de lá nos veio a forma atual de nossa cultura; o resto foi matéria que se sujeitou, mal ou bem, a essa forma.
23 de jun. de 2011
A invenção do Oriente Médio
Este texto foi transcrito do Guia do Estudante. Muito importante para entender a ideologia de Bin Laden e do Islamismo.
Israelenses lutam contra palestinos. Xiitas se opõem a sunitas. Radicais muçulmanos organizam ataques terroristas. Para entender o maior barril de pólvora do mundo, é preciso conhecer a história do local
Eduardo Szklarz | 27/05/2009 01h51
Em 7 de outubro de 2001, menos de um mês após os ataques terroristas aos Estados Unidos, a rede de TV árabe Al Jazeera transmitiu um vídeo de Osama bin Laden. Nele, o chefe da rede Al Qaeda falava da "humilhação" que o Islã havia sofrido durante "mais de 80 anos". O líder radical referia-se ao fato de, em 1918, o Império Turco-Otomano – a última grande potência muçulmana – ter sido derrotado pelos europeus. Sua capital Constantinopla foi tomada e a maior parte das terras, conquistadas por Maomé a partir do século 7, divididas em territórios com fronteiras novas e nomes inspirados em regiões da Antiguidade cujos limites não correspondiam ao novo traçado. Dois deles, chamados de Iraque e Palestina (hoje Israel, Jordânia e Cisjordânia), ficaram sob domínio britânico. Já o terceiro, que recebeu o nome de Síria (atuais Síria e Líbano), coube aos franceses. Pior: quatro anos depois, o califado, símbolo da unidade política do Islã por 13 séculos, cedia lugar a estados-nações com leis e costumes importados do Ocidente.
Bin Laden não é o único que usa os ressentimentos do passado para justificar ações presentes. No Oriente Médio, batalhas e heróis de séculos (ou milênios) atrás continuam reverberando no discurso dos líderes atuais para mobilizar as massas. Judeus até hoje celebram a conquista de Jerusalém por Davi, há 3 mil anos, e a unificação do antigo reino de Israel. Hassan Nassralah, chefe do Hezbollah, gosta de se comparar ao líder curdo Saladino, que em 1187 liderou a vitória dos muçulmanos sobre os cruzados na Terra Santa. O dirigente iraquiano Saddam Hussein dizia-se herdeiro do rei babilônico Nabucodonosor e de Saladino – embora Saddam tenha matado milhares de curdos nos anos 80.
A simbologia do passado é tão forte no Oriente Médio que as disputas nacionais acabam assumindo caráter religioso. Foi assim com o conflito entre israelenses e palestinos, que começou no início do século 20 como uma luta por terras e acabou atraindo radicais religiosos dos dois lados. É assim no Iraque, onde milícias armadas revivem hoje o conflito instaurado pelo cisma entre sunitas e xiitas nos primórdios do Islã.
É fato que os interesses petroleiros também ajudam a explicar as tensões no Oriente Médio. Mas a região só se tornou um dos pontos mais inflamáveis do mundo graças à constante mescla entre religião e política, entre passado e presente. Portanto, para entender o que ocorre lá hoje, é preciso voltar no tempo. Pelo menos 5 mil anos atrás.
PRIMEIROS HABITANTES
O mapa do Oriente Médio que vemos hoje é apenas o mais recente capítulo de uma longa saga. Desde 3 mil a.C., essa faixa de terra na encruzilhada da Europa, Ásia e África foi dominada – em maior ou menor escala – por diversos reinos e impérios, em conquistas não-lineares. Entre eles, os egípcios (a partir de 2500 a.C.), hititas (por volta de 1500 a.C.), israelitas (século 10 a.C.), assírios (século 8 a.C.), babilônios (século 7 a.C.), persas (século 6 a.C.), macedônios (século 4 a.C.), romanos (século 1), bizantinos (século 5), sassânidas e califado islâmico (século 7), seljúcidas, cruzados e muçulmanos liderados por Saladino (século 12), império mongol (século 13), império otomano (século 16) e potências ocidentais, no início do século 20.
A maioria desses povos não existe mais. A civilização dos faraós, por exemplo, nada tinha a ver com os árabes que hoje habitam o Egito. Adorava outros deuses, falava outra língua e utilizava diferentes formas de escrita. Cananeus, israelitas, fenícios e filisteus também já viviam no Oriente Médio milhares de anos antes do advento do Islã. Eles habitavam a parte ocidental do chamado Crescente Fértil (hoje, os territórios de Israel, Líbano e Cisjordânia). Por volta do século 13 a.C., os israelitas conquistaram Canaã, ao sul do Crescente, onde viviam cananeus e jebuseus, entre outros, e formaram um reino ao norte (Israel) e outro ao sul (Judá), que 300 anos depois seriam unificados pelo rei Davi, tendo Jerusalém como capital. Enfraquecido por disputas internas, o reino de Israel foi conquistado por Nabucodonosor, rei da Babilônia, em 586 a.C. Os judeus foram exilados.
Outros povos tiveram pior sorte. "Os filisteus desapareceram durante as conquistas babilônicas; já os fenícios permaneceram na costa do Mediterrâneo até a época romana [século 1]", diz o historiador Bernard Lewis, da Universidade de Princeton, no livro "O Oriente Médio". Outro povo que sumiu foram os nabateus, rica civilização semita que fez sua capital na cidade de Petra, na atual Jordânia. Os sumérios, acádios e assírios, que habitaram a Mesopotâmia (entre os rios Tigre e Eufrates), entraram em declínio com a avalanche de impérios e batalhas.
A partir do século 3, o Oriente Médio virou palco de sangrentos embates entre as duas principais potências da época: Pérsia e Roma. Até então, o cristianismo não tinha papel importante. "No início, os seguidores de Jesus foram uma seita perseguida. Mas com a conversão do imperador Constantino, no século 4, o cristianismo se tornou a religião oficial de Roma", diz o pesquisador americano Michael Hart. Foi quando a situação começou a mudar.
No século 5, o Império Romano do Ocidente sucumbiu ante as invasões bárbaras à Europa, mas o Império Romano do Oriente, mais conhecido como Bizantino, ainda se manteria por mil anos. Constantino havia feito sua capital em Bizâncio, rebatizada de Constantinopla (atual Istambul). Embora falassem grego, os bizantinos se consideravam romanos e levaram adiante as guerras contra os persas. Em 637, quando persas e bizantinos estavam exaustos de lutar, o Oriente Médio caiu na mira de uma nova potência: o Islã, fundado pelo profeta Maomé.
A REGIÃO SOB O ISLÃ
"Os exércitos de Maomé partiram da Arábia e avançaram sobre o Oriente Médio, África, Europa, Índia e China ao mesmo tempo, aliando a vanguarda da ciência ao maior poderio militar da Terra", diz Lewis. Maomé chegou com uma novidade em relação aos líderes cristãos: foi ao mesmo tempo líder político e religioso. "Ao longo da história cristã, Igreja e Estado desenvolveram hierarquias diferentes. As duas podem estar unidas ou, em tempos modernos, separadas. Mas, na sociedade concebida por Maomé, nunca foi criada uma instituição semelhante à Igreja", diz Lewis. "Não há no Islã a distinção entre a lei da mesquita e a lei do Estado. Há apenas uma única lei, a sharia, que regula todos os aspectos da vida humana." Com a morte de Maomé, em 632, a comunidade islâmica se dividiu sobre quem seria seu primeiro sucessor – o califa. A maioria apoiou a escolha de Abu Bakr, companheiro e sogro de Maomé. Outros desaprovaram essa decisão, dizendo que a única liderança legítima era a que vinha da linhagem do primo e genro do profeta, Ali. Os partidários de Bakr ficaram conhecidos como sunitas, enquanto os de Ali foram chamados de xiitas. "Sunita" vem da palavra árabe sunnah, que se refere às palavras e ao exemplo do profeta Maomé. Já "xiita" vem de shia, ou seguidor (de Ali). Esse cisma até hoje gera conflitos na região.
Certo é que os primeiros califas foram árabes e muçulmanos – isto é, faziam parte do povo árabe e seguiam a fé islâmica. (Muita gente hoje confunde "árabe" com "muçulmano", embora apenas 30% dos muçulmanos sejam árabes.) Nos séculos seguintes, o poder do califado foi exercido por dinastias diversas, como a dos omíadas (sediados em Damasco) e abássidas (com sede em Bagdá). Mas, apesar dessa diversidade, o califado se manteve como símbolo maior da unidade do Islã. Por vezes, essa unidade era ameaçada. Em 1096, por exemplo, o papa Urbano II resolveu dar um basta ao domínio muçulmano na Terra Santa e enviou a primeira de uma série de expedições – as Cruzadas – para reconquistá-la. Foi um banho de sangue. "Cabeças, mãos e pés se amontoavam nas ruas de Jerusalém", escreveu Raymond de Aguiles, cristão e testemunha da matança. Os cruzados expulsaram os judeus da cidade e transformaram as mesquitas em igrejas, baita humilhação aos muçulmanos. Mas o reino cruzado durou pouco. Os muçulmanos se reorganizaram em torno do general Saladino, que em 1187 entrou triunfante em Jerusalém, aceitou a rendição dos cristãos e permitiu a volta dos judeus. Detalhe: Saladino era curdo, não árabe. Sinal de que o poder estava mudando de mãos no Oriente Médio. Pouco depois, a região passou ao domínio dos mongóis, que com o tempo se converteram ao Islã.
A mudança maior ocorreu no século 15 com a formação de um novo império muçulmano: o dos turcosotomanos, que tomaram Constantinopla em 1453 e ampliaram seus domínios até a África e a Europa. "Os sultões otomanos se proclamaram califas, embora fossem turcos, não árabes. Tampouco eram descendentes de Maomé", diz o historiador inglês Christopher Catherwood, da Universidade de Cambridge. "Mas, com o sucesso de seu superestado, poucos muçulmanos contestariam a autoridade islâmica da nova dinastia dos califas. O orgulho muçulmano foi revigorado com a supremacia." Resultado: durante quase mil anos – entre o declínio do Império Romano e o advento da modernidade – o Islã esteve na dianteira do progresso humano. Era a principal potência econômica e comercial do planeta, vanguarda nas artes e nas ciências. Mas, de repente, a balança se inverteu. Os europeus promoveram o Renascimento e recuperaram o atraso científico. No século 16, Espanha, Portugal, Áustria e Rússia haviam ganhado sucessivas batalhas contra os exércitos de Alá. Em fins do século 17, o Islã era uma força em retirada e seus líderes se sentiam ameaçados pelos impérios ocidentais. Mais: o Ocidente renovou seus valores com a Revolução Francesa e promoveu a Revolução Industrial, enquanto o Islã, numa inversão do curso, parecia estagnado.
Em 1798, o francês Napoleão Bonaparte entrou no Egito e, pela primeira vez, submeteu os centros vitais do Islã ao domínio de uma potência ocidental. Com o Império Otomano tremendo nas bases, a situação das minorias religiosas piorou muito. Até então, judeus e cristãos (reconhecidos como "povos do livro") podiam seguir suas tradições desde que respeitassem as autoridades e pagassem impostos. Eram cidadãos de segunda classe – por exemplo, nunca podiam testemunhar num julgamento contra um muçulmano –, mas podiam contar com a proteção do califa. "Com a crise do Império Otomano, ficou difícil manter a tolerância baseada na superioridade religiosa. As minorias não-muçulmanas passaram a ser vistas como agentes das mudanças", diz Lewis. À medida que a situação piorava, crescia a influência do partido Jovens Turcos, que buscava modernizar o país. Em 1913, a facção extremista do partido derrubou o sultão Abdul Hamid II e instaurou um regime para acabar com a diversidade do império. No jargão dos extremistas, essa idéia era chamada de "panturquismo" – e significava a exclusão de todas as minorias.
Esse nacionalismo era uma novidade e tanto na história dos impérios muçulmanos. Até então, não importava se seus integrantes fossem árabes, persas, curdos: o importante era que fossem muçulmanos. Agora, os manda-chuvas declaravam que mais importante era ser turco. Um tiro que sairia pela culatra. Fronteiras pós-guerra Quando estourou a Primeira Guerra, em 1914, a maioria dos árabes manteve-se leal ao Império Otomano. "Os curdos também tomaram o seu lado e, estimulados pelos otomanos, massacraram centenas de milhares de armênios cristãos", diz Catherwood. Na Europa, franceses, ingleses e russos se aliaram contra o expansionismo alemão. Os Jovens Turcos decidiram lutar do lado da Alemanha. Ingleses começaram a treinar tribos árabes de dentro do próprio Império Otomano contra os turcos usando táticas de guerrilha. Figura famosa da época foi T.E. Lawrence, soldado e arqueólogo inglês que teria liderado a Revolta Árabe (1916-18) contra os turcos. Ele ficou tão famoso que mereceu um filme – Lawrence da Arábia. Mas a revolta e o papel de Lawrence ainda geram polêmica entre os historiadores.
"Grandes trechos do filme são fictícios", diz Catherwood. "Fica parecendo que os árabes foram traídos por britânicos e franceses. É como se os valorosos libertadores árabes fossem manipulados pelos perversos ocidentais", diz ele. "Investigações recentes deixam claro que não foi o que aconteceu. O que ocorreu foi uma invasão australiano-britânica, comandada pelo general Allenby, que de fato libertou toda a região dos turcos, junto com invasões das tropas indianas lideradas por britânicos. Não fosse isso, o exército turco teria saído vitorioso e a revolta teria sido relegada ao esquecimento." Segundo Catherwood, realmente havia árabes descontentes com o domínio turco, sobretudo quando as atrocidades contra os armênios atingiram escala genocida. Mas a proporção de árabes que se revoltaram e combateram ao lado dos britânicos foi pequena. Seja como for, tribos árabes ficaram frustradas no fim da guerra, quando os turcos jogaram a toalha. Franceses e britânicos lotearam as terras do Império Otomano e as dividiram em fronteiras novas. "Até os nomes refletem essa artificialidade. Iraque havia sido uma província medieval com fronteiras muito diferentes das atuais. Síria, Líbano e Palestina são nomes da Antiguidade clássica que não haviam sido utilizados na região durante mil anos", diz Lewis.
Os franceses criaram o Líbano atual tomando parte da Síria, enquanto os britânicos traçaram as fronteiras da Transjordânia (atual Jordânia), do Iraque e do Kuwait. Na cabeça de cada um desses países, os europeus puseram líderes de clãs árabes pró-Ocidente para endossar seus interesses pelo petróleo. “Essa criação de nações com fronteiras artificiais, unindo povos com identidades e lealdades ancestrais muito distintas, foi um processo frágil que plantou a semente de crises de legitimidade e poder”, diz o americano John Esposito, professor de Estudos Islâmicos na Universidade de Georgetown. Na Turquia, último vestígio do Império Otomano, convencido de que precisava modernizar o país, o líder turco Kamal Ataturk instituiu a República, separou a religião da política e aboliu o califado – que havia sido o símbolo da identidade muçulmana durante 13 séculos. É a esse momento que Bin Laden se refere ao falar dos 80 anos de “humilhação” do Islã. Afinal, boa parte do mundo muçulmano se via nas mãos de líderes ocidentalizados. A a colonização não durou mais que 30 anos, mas ajudou a enterrar a unidade muçulmana da época medieval.
Na Palestina, a Inglaterra se viu com uma batata quente nas mãos: conter os crescentes enfrentamentos entre árabes e judeus. Ambos reivindicavam aquelas terras para a construção de seu lar nacional. Em 1947, os ingleses abriram mão da colônia e passaram a bola para a Assembléia Geral da ONU, que votou pela divisão da Palestina em dois estados: um judeu e outro árabe (palestino). Os judeus aceitaram o plano, mas a Liga Árabe o rejeitou.
Resultado: após sua independência, em 1948, Israel foi invadido pelos países vizinhos. Tinha início a primeira das seis guerras árabesisraelenses – e com ela o problema dos refugiados palestinos. Com o cessar-fogo, em 1949, Israel ficou com parte de Jerusalém e um território um pouco maior que o planejado pela ONU. As zonas que seriam destinadas aos palestinos – Gaza e Cisjordânia – ficaram com Egito e Jordânia, dois países árabes, mas o Estado palestino não foi criado.
ISLAMISMO x ISLÃ
Nos anos 50 e 60, a Guerra Fria dividiu o Oriente Médio entre dois blocos de Estados
antagônicos. “Os chamados conservadores, como a Arábia Saudita, os sultanatos, emirados,
a Jordânia e o Marrocos, formavam um grupo de monarquias sob forte influência ocidental – especialmente dos Estados Unidos”, diz o historiador Peter Demant, da Universidade de São Paulo, em O Mundo Muçulmano. “Por outro lado, houve uma série de regimes ditos progressistas, originados de revoluções antiocidentais. Foi o caso de Egito, Líbia, Síria, Iraque e Argélia, alinhados à União Soviética, com um discurso nacionalista e socialista.” O ditador egípcio Gamal Abdel Nasser, por exemplo, promovia a união dos árabes sob a bandeira do pan-arabismo. “Mas o nacionalismo/socialismo árabe se viu desacreditado pela desastrosa derrota de Egito, Jordânia e Síria frente a Israel na guerra de 1967 [quando Israel conquistou Jerusalém oriental, Gaza, Cisjordânia e as colinas do Golã], além do fracasso econômico e da corrupção de seus governos”, diz Esposito.
A essa altura, uma enorme sensação de insatisfação se propagava entre as massas do Oriente Médio e do mundo islâmico. Ela criou condições para a emergência de um movimento radical, o popular “fundamentalismo”, embora seja mais correto dizer “islamismo”.
"O islamismo é uma ideologia totalitária que busca o poder sob a desculpa da religião", diz o analista espanhol Gustavo Arístegui em O Islamismo Contra o Islã. "É uma manipulação da religião islâmica." Os islamistas (fundamentalistas) dizem que o Islã errou ao adotar o modo de vida ocidental. Portanto, é preciso derrocar os governantes muçulmanos moderados e implantar regimes baseados na sharia. “No longo prazo, eles pretendem formar uma federação desses regimes e restabelecer o califado”, diz Arístegui. O berço desse radicalismo foi o grupo Irmandade Muçulmana, criado no Egito em 1928. O fundador, Hassan al-Banna, defendia a purificação do Islã contra qualquer elemento ocidental. Banna foi morto pelo governo do Cairo, mas sua ideologia sobrevive em grupos como Hamas e Hezbollah e na rede terrorista Al Qaeda. O palestino Abdullah Azzam, mentor de Bin Laden, era da Irmandade Muçulmana. O egípcio Said Qutb, ideólogo do grupo, influênciou muito o líder da Al Qaeda. “Esses radicais justificam o terrorismo recitando a lista de ressentimentos padecidos por culpa do Ocidente: as Cruzadas, o colonialismo, a criação de Israel, a Guerra Fria e a presença americana nas terras sagradas do Golfo”, diz Esposito. Bin Laden tem pouco (ou nada) a ver com a causa palestina. Mas falar em nome dela, como pode ser notado hoje, é garantia de apoio.
A maioria desses povos não existe mais. A civilização dos faraós, por exemplo, nada tinha a ver com os árabes que hoje habitam o Egito. Adorava outros deuses, falava outra língua e utilizava diferentes formas de escrita. Cananeus, israelitas, fenícios e filisteus também já viviam no Oriente Médio milhares de anos antes do advento do Islã. Eles habitavam a parte ocidental do chamado Crescente Fértil (hoje, os territórios de Israel, Líbano e Cisjordânia). Por volta do século 13 a.C., os israelitas conquistaram Canaã, ao sul do Crescente, onde viviam cananeus e jebuseus, entre outros, e formaram um reino ao norte (Israel) e outro ao sul (Judá), que 300 anos depois seriam unificados pelo rei Davi, tendo Jerusalém como capital. Enfraquecido por disputas internas, o reino de Israel foi conquistado por Nabucodonosor, rei da Babilônia, em 586 a.C. Os judeus foram exilados.
Outros povos tiveram pior sorte. "Os filisteus desapareceram durante as conquistas babilônicas; já os fenícios permaneceram na costa do Mediterrâneo até a época romana [século 1]", diz o historiador Bernard Lewis, da Universidade de Princeton, no livro "O Oriente Médio". Outro povo que sumiu foram os nabateus, rica civilização semita que fez sua capital na cidade de Petra, na atual Jordânia. Os sumérios, acádios e assírios, que habitaram a Mesopotâmia (entre os rios Tigre e Eufrates), entraram em declínio com a avalanche de impérios e batalhas.
A partir do século 3, o Oriente Médio virou palco de sangrentos embates entre as duas principais potências da época: Pérsia e Roma. Até então, o cristianismo não tinha papel importante. "No início, os seguidores de Jesus foram uma seita perseguida. Mas com a conversão do imperador Constantino, no século 4, o cristianismo se tornou a religião oficial de Roma", diz o pesquisador americano Michael Hart. Foi quando a situação começou a mudar.
No século 5, o Império Romano do Ocidente sucumbiu ante as invasões bárbaras à Europa, mas o Império Romano do Oriente, mais conhecido como Bizantino, ainda se manteria por mil anos. Constantino havia feito sua capital em Bizâncio, rebatizada de Constantinopla (atual Istambul). Embora falassem grego, os bizantinos se consideravam romanos e levaram adiante as guerras contra os persas. Em 637, quando persas e bizantinos estavam exaustos de lutar, o Oriente Médio caiu na mira de uma nova potência: o Islã, fundado pelo profeta Maomé.
A REGIÃO SOB O ISLÃ
"Os exércitos de Maomé partiram da Arábia e avançaram sobre o Oriente Médio, África, Europa, Índia e China ao mesmo tempo, aliando a vanguarda da ciência ao maior poderio militar da Terra", diz Lewis. Maomé chegou com uma novidade em relação aos líderes cristãos: foi ao mesmo tempo líder político e religioso. "Ao longo da história cristã, Igreja e Estado desenvolveram hierarquias diferentes. As duas podem estar unidas ou, em tempos modernos, separadas. Mas, na sociedade concebida por Maomé, nunca foi criada uma instituição semelhante à Igreja", diz Lewis. "Não há no Islã a distinção entre a lei da mesquita e a lei do Estado. Há apenas uma única lei, a sharia, que regula todos os aspectos da vida humana." Com a morte de Maomé, em 632, a comunidade islâmica se dividiu sobre quem seria seu primeiro sucessor – o califa. A maioria apoiou a escolha de Abu Bakr, companheiro e sogro de Maomé. Outros desaprovaram essa decisão, dizendo que a única liderança legítima era a que vinha da linhagem do primo e genro do profeta, Ali. Os partidários de Bakr ficaram conhecidos como sunitas, enquanto os de Ali foram chamados de xiitas. "Sunita" vem da palavra árabe sunnah, que se refere às palavras e ao exemplo do profeta Maomé. Já "xiita" vem de shia, ou seguidor (de Ali). Esse cisma até hoje gera conflitos na região.
Certo é que os primeiros califas foram árabes e muçulmanos – isto é, faziam parte do povo árabe e seguiam a fé islâmica. (Muita gente hoje confunde "árabe" com "muçulmano", embora apenas 30% dos muçulmanos sejam árabes.) Nos séculos seguintes, o poder do califado foi exercido por dinastias diversas, como a dos omíadas (sediados em Damasco) e abássidas (com sede em Bagdá). Mas, apesar dessa diversidade, o califado se manteve como símbolo maior da unidade do Islã. Por vezes, essa unidade era ameaçada. Em 1096, por exemplo, o papa Urbano II resolveu dar um basta ao domínio muçulmano na Terra Santa e enviou a primeira de uma série de expedições – as Cruzadas – para reconquistá-la. Foi um banho de sangue. "Cabeças, mãos e pés se amontoavam nas ruas de Jerusalém", escreveu Raymond de Aguiles, cristão e testemunha da matança. Os cruzados expulsaram os judeus da cidade e transformaram as mesquitas em igrejas, baita humilhação aos muçulmanos. Mas o reino cruzado durou pouco. Os muçulmanos se reorganizaram em torno do general Saladino, que em 1187 entrou triunfante em Jerusalém, aceitou a rendição dos cristãos e permitiu a volta dos judeus. Detalhe: Saladino era curdo, não árabe. Sinal de que o poder estava mudando de mãos no Oriente Médio. Pouco depois, a região passou ao domínio dos mongóis, que com o tempo se converteram ao Islã.
A mudança maior ocorreu no século 15 com a formação de um novo império muçulmano: o dos turcosotomanos, que tomaram Constantinopla em 1453 e ampliaram seus domínios até a África e a Europa. "Os sultões otomanos se proclamaram califas, embora fossem turcos, não árabes. Tampouco eram descendentes de Maomé", diz o historiador inglês Christopher Catherwood, da Universidade de Cambridge. "Mas, com o sucesso de seu superestado, poucos muçulmanos contestariam a autoridade islâmica da nova dinastia dos califas. O orgulho muçulmano foi revigorado com a supremacia." Resultado: durante quase mil anos – entre o declínio do Império Romano e o advento da modernidade – o Islã esteve na dianteira do progresso humano. Era a principal potência econômica e comercial do planeta, vanguarda nas artes e nas ciências. Mas, de repente, a balança se inverteu. Os europeus promoveram o Renascimento e recuperaram o atraso científico. No século 16, Espanha, Portugal, Áustria e Rússia haviam ganhado sucessivas batalhas contra os exércitos de Alá. Em fins do século 17, o Islã era uma força em retirada e seus líderes se sentiam ameaçados pelos impérios ocidentais. Mais: o Ocidente renovou seus valores com a Revolução Francesa e promoveu a Revolução Industrial, enquanto o Islã, numa inversão do curso, parecia estagnado.
Em 1798, o francês Napoleão Bonaparte entrou no Egito e, pela primeira vez, submeteu os centros vitais do Islã ao domínio de uma potência ocidental. Com o Império Otomano tremendo nas bases, a situação das minorias religiosas piorou muito. Até então, judeus e cristãos (reconhecidos como "povos do livro") podiam seguir suas tradições desde que respeitassem as autoridades e pagassem impostos. Eram cidadãos de segunda classe – por exemplo, nunca podiam testemunhar num julgamento contra um muçulmano –, mas podiam contar com a proteção do califa. "Com a crise do Império Otomano, ficou difícil manter a tolerância baseada na superioridade religiosa. As minorias não-muçulmanas passaram a ser vistas como agentes das mudanças", diz Lewis. À medida que a situação piorava, crescia a influência do partido Jovens Turcos, que buscava modernizar o país. Em 1913, a facção extremista do partido derrubou o sultão Abdul Hamid II e instaurou um regime para acabar com a diversidade do império. No jargão dos extremistas, essa idéia era chamada de "panturquismo" – e significava a exclusão de todas as minorias.
Esse nacionalismo era uma novidade e tanto na história dos impérios muçulmanos. Até então, não importava se seus integrantes fossem árabes, persas, curdos: o importante era que fossem muçulmanos. Agora, os manda-chuvas declaravam que mais importante era ser turco. Um tiro que sairia pela culatra. Fronteiras pós-guerra Quando estourou a Primeira Guerra, em 1914, a maioria dos árabes manteve-se leal ao Império Otomano. "Os curdos também tomaram o seu lado e, estimulados pelos otomanos, massacraram centenas de milhares de armênios cristãos", diz Catherwood. Na Europa, franceses, ingleses e russos se aliaram contra o expansionismo alemão. Os Jovens Turcos decidiram lutar do lado da Alemanha. Ingleses começaram a treinar tribos árabes de dentro do próprio Império Otomano contra os turcos usando táticas de guerrilha. Figura famosa da época foi T.E. Lawrence, soldado e arqueólogo inglês que teria liderado a Revolta Árabe (1916-18) contra os turcos. Ele ficou tão famoso que mereceu um filme – Lawrence da Arábia. Mas a revolta e o papel de Lawrence ainda geram polêmica entre os historiadores.
"Grandes trechos do filme são fictícios", diz Catherwood. "Fica parecendo que os árabes foram traídos por britânicos e franceses. É como se os valorosos libertadores árabes fossem manipulados pelos perversos ocidentais", diz ele. "Investigações recentes deixam claro que não foi o que aconteceu. O que ocorreu foi uma invasão australiano-britânica, comandada pelo general Allenby, que de fato libertou toda a região dos turcos, junto com invasões das tropas indianas lideradas por britânicos. Não fosse isso, o exército turco teria saído vitorioso e a revolta teria sido relegada ao esquecimento." Segundo Catherwood, realmente havia árabes descontentes com o domínio turco, sobretudo quando as atrocidades contra os armênios atingiram escala genocida. Mas a proporção de árabes que se revoltaram e combateram ao lado dos britânicos foi pequena. Seja como for, tribos árabes ficaram frustradas no fim da guerra, quando os turcos jogaram a toalha. Franceses e britânicos lotearam as terras do Império Otomano e as dividiram em fronteiras novas. "Até os nomes refletem essa artificialidade. Iraque havia sido uma província medieval com fronteiras muito diferentes das atuais. Síria, Líbano e Palestina são nomes da Antiguidade clássica que não haviam sido utilizados na região durante mil anos", diz Lewis.
Os franceses criaram o Líbano atual tomando parte da Síria, enquanto os britânicos traçaram as fronteiras da Transjordânia (atual Jordânia), do Iraque e do Kuwait. Na cabeça de cada um desses países, os europeus puseram líderes de clãs árabes pró-Ocidente para endossar seus interesses pelo petróleo. “Essa criação de nações com fronteiras artificiais, unindo povos com identidades e lealdades ancestrais muito distintas, foi um processo frágil que plantou a semente de crises de legitimidade e poder”, diz o americano John Esposito, professor de Estudos Islâmicos na Universidade de Georgetown. Na Turquia, último vestígio do Império Otomano, convencido de que precisava modernizar o país, o líder turco Kamal Ataturk instituiu a República, separou a religião da política e aboliu o califado – que havia sido o símbolo da identidade muçulmana durante 13 séculos. É a esse momento que Bin Laden se refere ao falar dos 80 anos de “humilhação” do Islã. Afinal, boa parte do mundo muçulmano se via nas mãos de líderes ocidentalizados. A a colonização não durou mais que 30 anos, mas ajudou a enterrar a unidade muçulmana da época medieval.
Na Palestina, a Inglaterra se viu com uma batata quente nas mãos: conter os crescentes enfrentamentos entre árabes e judeus. Ambos reivindicavam aquelas terras para a construção de seu lar nacional. Em 1947, os ingleses abriram mão da colônia e passaram a bola para a Assembléia Geral da ONU, que votou pela divisão da Palestina em dois estados: um judeu e outro árabe (palestino). Os judeus aceitaram o plano, mas a Liga Árabe o rejeitou.
Resultado: após sua independência, em 1948, Israel foi invadido pelos países vizinhos. Tinha início a primeira das seis guerras árabesisraelenses – e com ela o problema dos refugiados palestinos. Com o cessar-fogo, em 1949, Israel ficou com parte de Jerusalém e um território um pouco maior que o planejado pela ONU. As zonas que seriam destinadas aos palestinos – Gaza e Cisjordânia – ficaram com Egito e Jordânia, dois países árabes, mas o Estado palestino não foi criado.
ISLAMISMO x ISLÃ
Nos anos 50 e 60, a Guerra Fria dividiu o Oriente Médio entre dois blocos de Estados
antagônicos. “Os chamados conservadores, como a Arábia Saudita, os sultanatos, emirados,
a Jordânia e o Marrocos, formavam um grupo de monarquias sob forte influência ocidental – especialmente dos Estados Unidos”, diz o historiador Peter Demant, da Universidade de São Paulo, em O Mundo Muçulmano. “Por outro lado, houve uma série de regimes ditos progressistas, originados de revoluções antiocidentais. Foi o caso de Egito, Líbia, Síria, Iraque e Argélia, alinhados à União Soviética, com um discurso nacionalista e socialista.” O ditador egípcio Gamal Abdel Nasser, por exemplo, promovia a união dos árabes sob a bandeira do pan-arabismo. “Mas o nacionalismo/socialismo árabe se viu desacreditado pela desastrosa derrota de Egito, Jordânia e Síria frente a Israel na guerra de 1967 [quando Israel conquistou Jerusalém oriental, Gaza, Cisjordânia e as colinas do Golã], além do fracasso econômico e da corrupção de seus governos”, diz Esposito.
A essa altura, uma enorme sensação de insatisfação se propagava entre as massas do Oriente Médio e do mundo islâmico. Ela criou condições para a emergência de um movimento radical, o popular “fundamentalismo”, embora seja mais correto dizer “islamismo”.
"O islamismo é uma ideologia totalitária que busca o poder sob a desculpa da religião", diz o analista espanhol Gustavo Arístegui em O Islamismo Contra o Islã. "É uma manipulação da religião islâmica." Os islamistas (fundamentalistas) dizem que o Islã errou ao adotar o modo de vida ocidental. Portanto, é preciso derrocar os governantes muçulmanos moderados e implantar regimes baseados na sharia. “No longo prazo, eles pretendem formar uma federação desses regimes e restabelecer o califado”, diz Arístegui. O berço desse radicalismo foi o grupo Irmandade Muçulmana, criado no Egito em 1928. O fundador, Hassan al-Banna, defendia a purificação do Islã contra qualquer elemento ocidental. Banna foi morto pelo governo do Cairo, mas sua ideologia sobrevive em grupos como Hamas e Hezbollah e na rede terrorista Al Qaeda. O palestino Abdullah Azzam, mentor de Bin Laden, era da Irmandade Muçulmana. O egípcio Said Qutb, ideólogo do grupo, influênciou muito o líder da Al Qaeda. “Esses radicais justificam o terrorismo recitando a lista de ressentimentos padecidos por culpa do Ocidente: as Cruzadas, o colonialismo, a criação de Israel, a Guerra Fria e a presença americana nas terras sagradas do Golfo”, diz Esposito. Bin Laden tem pouco (ou nada) a ver com a causa palestina. Mas falar em nome dela, como pode ser notado hoje, é garantia de apoio.
5 de jun. de 2011
Bullying, doença contemporânea
Certo dia, assistindo ao Jornal Hoje que noticiava o triste episódio do atirador na escola de Realengo, onde todos se lembram do doidão dando tiros em crianças, parei por alguns minutos pra refletir na indagação da jornalista Sandra Annemberg a um psicólogo dizendo: "Por que esse aumento no bullying, o que está acontecendo?". Apertei a tecla pause do meu cérebro e comecei a pensar.
Segundo o Dicionário Priberan da Língua Portuguesa, Bullying é o conjunto de maus tratos, ameaças, coações e outros atos de intimidação física ou psicológica exercido de forma continuada sobre uma pessoa considerada mais fraca ou vulnerável.
Mas, "fraca" e "vulnerável" a que? Usando qual paralelo de supremacia? Econômica, social, étnica, religiosa, ou todas? Há indícios que sejam todos esses fatores juntos e separados, na medida em que cada grupo se representa, mas se unem num objetivo final de fortalecimento no status quo. Estranha-se o outro que está fora dos padrões culturais considerado aceitável pela sociedade daquele local.
Segundo o Dicionário Priberan da Língua Portuguesa, Bullying é o conjunto de maus tratos, ameaças, coações e outros atos de intimidação física ou psicológica exercido de forma continuada sobre uma pessoa considerada mais fraca ou vulnerável.
Mas, "fraca" e "vulnerável" a que? Usando qual paralelo de supremacia? Econômica, social, étnica, religiosa, ou todas? Há indícios que sejam todos esses fatores juntos e separados, na medida em que cada grupo se representa, mas se unem num objetivo final de fortalecimento no status quo. Estranha-se o outro que está fora dos padrões culturais considerado aceitável pela sociedade daquele local.
No caso do Ocidente, o capital rege a sociedade. São, literalmente, indústrias voltadas à uma postura cultural direcionando toda uma Nação a este amplo universo, na maioria das vezes, com intuito de receber regalias que resultarão em ganhos financeiros. Difundir essa cultura para um maior números de pessoas possíveis acaba sendo o papel da mídia, em raríssimos casos, imparcial. Indiscutivelmente, a televisão atinge um número gigantesco de pessoas. Por seu intermédio é possível saber a última tendência da moda, da arquitetura, dos filmes considerados bons, novas tecnologias e principalmente notícias que interessam a população (escolhidas à dedo e muitas vezes editada). É uma doutrina injetada lentamente, todos os dias, sem percebermos. Fora desses padrões, considerados aceitáveis pela maioria, o sujeito é estranho. E ser estranho é não se parecer com aquelas pessoas da TV ou não consumir os mesmos produtos tecnológicos que a maioria consome. Estar em redes sociais é quase uma obrigação. Mas tem gente que não gosta de nada disso.
O bullying começa na infância, período em que a criança passa por uma fase de reconhecimento na sociedade em que está inserida, e em geral na escola, seja pelo óculos, seja por ser baixinho ou narigudo, pelos cabelos, religião, etnia, enfim, uma pseudo - diferença que exclui e rechaça o outro.
Mas qual parâmetro para classificar o outro? Baseado em qual? Voltamos as indústrias culturais que promovem cultura usando a mídia como ponte de acesso. Insere-se o fetiche do consumo, a necessidade de consumir todas as atualidades que as propagandas jorram, por minuto, em nossas caras. A escolha do não consumo (por opção ou falta de verba para tal) tem um preço alto, as massas não aceitam e as crianças, cruéis em sua sinceridade e já corrompidas pelo sistema capitalista, ridicularizam quem não acompanha esse ritmo dinâmico. Surge o bullying que vai crescendo na vítima de forma silenciosa, refletida na pessoa adulta como timidez, de pessoa calada mas revoltada contra o sistema da qual faz parte, mesmo excluído. O bullying tem raízes muito mais profundas do que um simplesmente "você é beiçudo". Claro que indivíduos loucos são loucos, não há coerência em seus atos, mas o bullying acentua uma revolta que só tende a crescer. Como minimizar? Não sei. Vejo apenas o capital atropelando tudo pela frente.
O bullying começa na infância, período em que a criança passa por uma fase de reconhecimento na sociedade em que está inserida, e em geral na escola, seja pelo óculos, seja por ser baixinho ou narigudo, pelos cabelos, religião, etnia, enfim, uma pseudo - diferença que exclui e rechaça o outro.
Mas qual parâmetro para classificar o outro? Baseado em qual? Voltamos as indústrias culturais que promovem cultura usando a mídia como ponte de acesso. Insere-se o fetiche do consumo, a necessidade de consumir todas as atualidades que as propagandas jorram, por minuto, em nossas caras. A escolha do não consumo (por opção ou falta de verba para tal) tem um preço alto, as massas não aceitam e as crianças, cruéis em sua sinceridade e já corrompidas pelo sistema capitalista, ridicularizam quem não acompanha esse ritmo dinâmico. Surge o bullying que vai crescendo na vítima de forma silenciosa, refletida na pessoa adulta como timidez, de pessoa calada mas revoltada contra o sistema da qual faz parte, mesmo excluído. O bullying tem raízes muito mais profundas do que um simplesmente "você é beiçudo". Claro que indivíduos loucos são loucos, não há coerência em seus atos, mas o bullying acentua uma revolta que só tende a crescer. Como minimizar? Não sei. Vejo apenas o capital atropelando tudo pela frente.
24 de abr. de 2011
Arte Moderna é Bolchevismo
Estranha esta afirmação, eu concordo. Mas era desta forma que a aristocracia via o Movimento Modernista. Iniciado na primeira metade do século XX, o modernismo foi uma extensão do pensamento revolucionário marxista levado ao universo artístico. A arte moderna é em sua origem a marginalidade e em sua maioria, se colocam à mostra. Do modernismo participaram literatura, arquitetura, design, pintura, escultura, teatro e música. Antes de Stalin, devido as mudanças políticas, as artes estavam, de fato e de direito, voltadas a população, operários andavam com poesias nos bolsos. A arte de vanguarda se realizava neste momento, haja vista a abstrata. Porém, com Stalin e o realismo socialista isto foi proibido. Stalin achava que este tipo de arte não contribuía com o contexto revolucionário. Em sua visão o ideal era exaltar os homens da revolução. No Brasil os movimentos incorporam em 1922, na Semana de Arte Moderna, inspirado, entre outras coisas, em Anita Malfatti.
Assim como artistas de princípios modernistas, Anita também buscava "sair"da arte acadêmica, cheia de regras. Poucos a apoiavam, mas na Europa era uma tendência. Les demoiselles d'Avignon de Pablo Picasso reúne todos esses fatores anti-burgueses (o que significa o oposto da Mona Lisa, o inverso europeu, uma arte colonial, indígena, africana, asiática), é possível identificar que são mulheres do povo, com elementos cubistas, são avermelhadas (não branquinhas como as européias), seus rostos são máscaras africanas, enfim, todos os elementos das tendências buscadas pelos artistas.
No Brasil, tudo estava aqui, a realidade das colônias. Tarsila do Amaral, Osvald de Andrade, Mário de Andrade, são exemplos de estilos artísticos diferentes, unidos em torno de um objetivo. Marcel Duchamp escandaliza ao enviar um urinol como objeto artístico (algo mais anti burguês, um recipiente para fazer xixi) Helio Oiticica vai ao limiar quando inventa o Parangolé, arte que veste.
Quando observamos estes elementos, podemos entender a afirmação que a aristocracia elitista sustentava: "O Modernismo é bolchevismo" A experiência passa a ser o foco do artista. Criar sem regras acadêmicas, trazer o público a participar da obra, seja em forma de instalações ou happenings, utilizando objetos cotidianos, chamando atenção para o meio em que vivemos, passa a ser um "engajamento" do artista moderno/contemporâneo. Neste mesmo blog, há artigos que complementam esta postagem como: A Ate Grita, ou Hélio Oiticica. Anti-arte por excelência, que podem ajudar o leitor a entender um pouco melhor este complexo universo de pensamentos.
18 de mar. de 2011
EricHobsbawniando o Breve século XXI
O termo que usei para o título da postagem se refere ao grande historiador Eric Hobsbawn*, um dos mais respeitados da atualidade. Lógico, não tenho a pretensão de discorrer pensamentos com a mesma carga de conhecimento que ele, mas sou historiadora e sigo seus passos. Assim o termo foi escolhido pura e simplesmente por ser uma postagem de reflexão sobre situações contemporâneas, como em seu livro "A Era dos Extremos: O Breve Século XX" em que faz uma profunda reflexão dos efeitos das duas Grandes Guerras, problemas do Oriente Médio e o capitalismo com suas consequências. Ele viveu todas essas situações, têm conhecimento de sobra e autoridade pra dizer o que pensa.
Nas duas postagens anteriores os temas deixavam claro que em nome de uma civilização crescente, onde o modelo a ser seguido, nos termos burgueses, significa crescimento econômico, qualquer justificativa para se atingir esse objetivo, vale. Cultura, como sinônimo de refinamento, atrelado a uma educação elitista, e progresso econômico que leva a um maior consumo de produtos industrializados, são as metas de quase todos os paises capitalistas (considerando que quase todos o são).
Essa busca desenfreada pelo poder e acumulação de capital de uma pequena porcentagem da população mundial, leva o planeta a um possível colapso.
Desde 1945 (logo após o término da II Guerra Mundial) a energia nuclear começou a ser utilizada na criação de armas e desde 1950 como geradora de eletricidade. Usada pelos EUA para devastar Hiroshima e Nagasaki foi utilizada como arma nuclear numa demonstração de força bélica e econômica, como se mandassem uma mensagem ao Mundo que eles, sim , os Estados Unidos da América, possuiam uma arma capaz de devastar o planeta. Não mexam com eles.
Corpo carbonizado depois da Bomba de Hiroshima - 1945
Desde os descobrimentos e principalmente após a Revolução Industrial, os produtos de base e matéria prima retirada da natureza são vistos e tratados como "inesgotáveis". Devastação da floresta para a expansão do agro-negócio com a cana-de-açúcar avançando sobre o cerrado e a soja sobre a floresta. Tudo isso em nome de um consumo desenfreado e irracional onde máquinas tornam-se obsoletas em questão de meses, necessitando ser substituidas por um modelo mais atualizado. Pra que ter somente um celular, se pode ter um celular com internet, mp3, TV com canal à cabo, etc, etc..., mas você não queria só um celular? O mundo tecnológico necessita de mais profissionais, capazes de inventar e manusear novas tecnologias "necessárias" para se obter um maior conforto. O pensamento estadunidense venceu o pensamento socialista soviético, seja leninista ou stalinista, o fetiche do consumo imediato é reflexo da carência do ser humano frente à dinamicidade do capital. Neste fogo cruzado entre correntes de pensamentos, a natureza, que até o momento apenas assistia ao embate, resolveu mostrar o tamanho de sua força.
Tsunamis, terremotos, inundações, ciclones, desabamento de terras e cratéras abertas pelas chuvas em centros urbanos, são uma pequena demonstração que antes de corroermos a natureza, devemos lembrar que somos parte dela, não o todo. Nossa função enquanto parte da engrenagem de uma máquina, que funciona (deveria funcionar) como vetor para o funcionamento de outras engrenagens, seria sim, usar a tão cobiçada inteligência (único fator que nos separa de outros animais) e criar meios para o tão falado crescimento sustentável.
Infelizmente o que vimos sempre é uma sociedade completamente alienada, consumista ao extremo e altamente egocêntrica. A panela pega pressão quando além dos desastres naturais assistimos a guerras civis no Oriente contra regimes ditatoriais. Ninguém aguenta viver debaixo da bota de um ditador que geralmente suga seu povo enquanto desfruta do melhor que o dinheiro pode pagar.
Nos momentos de crise as pessoas buscam aconchego e abrigo em algo que lhes é superior e a religiosidade aparece. Neste caso do Oriente, o Islã surge como via ou alternativa em resposta a cultura ocidental que sempre se mostrou ineficaz, muito longe de ser exemplo a ser seguido.
O Brasil, continuando seu capitalismo tardio*, planeja para 2015 a construção da Usina Angra 3 no Rio de Janeiro. Também se gaba de seu crescimento econômico e enche a boca pra dizer que o brasileiro anda consumindo mais, tanto que já está entre os campeões em vendas de celulares e carros. Surge para a competição capitalista num momento em que a preservação ambiental é fundamental na conservação das espécies. As florestas, cerrados, lençóis d'agua ainda são o resto de esperança em pró da natureza.
Estão todos cegos e loucos. O momento presente é histórico e aterrorizante.
* Eric Hobsbawm nasceu em 1917 em Alexandria no Egito, e desenvolveu seus estudos em Viena, Berlim, Londres e Cambridge. Fellow da British Academy e da American Academy of Arts and Sciences, professor visitante em diversas universidades da Europa e da América, lecionou até aposentar-se no Birkbeck College, da Universidade de Londres. Desde então ensina na New School for Social Research, em Nova York. Escreveu, entre outros, A Era do Capital, A Era dos Extremos, A Era das Revoluções, A Era dos Impérios, Os Bandidos, Da Revolução Industrial Inglesa ao Imperialismo, Rebeldes Primitivos, O Breve Século XX 1914-1991, e Ecos da Marselhesa, todos publicados no Brasil. ( Fonte: Histórianet - http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=160)
* MELLO, João Manoel Cardoso de. Capitalismo tardio: UNESP.2009
Capitalismo Tardio é uma obra do historiador João Manuel Cardoso de Mello, onde aborda justamente o fato de a América Latina ter iniciado sua economia própria bem depois dos paises europeus, caracterizando sempre uma dependência do êxito econômico europeu, para êxito econômico próprio, uma vez que necessita, pelo menos, de tecnologia externa para montagem do maquinário interno.
Mega Tsunami - Costa australiana.
Infelizmente o que vimos sempre é uma sociedade completamente alienada, consumista ao extremo e altamente egocêntrica. A panela pega pressão quando além dos desastres naturais assistimos a guerras civis no Oriente contra regimes ditatoriais. Ninguém aguenta viver debaixo da bota de um ditador que geralmente suga seu povo enquanto desfruta do melhor que o dinheiro pode pagar.
Nos momentos de crise as pessoas buscam aconchego e abrigo em algo que lhes é superior e a religiosidade aparece. Neste caso do Oriente, o Islã surge como via ou alternativa em resposta a cultura ocidental que sempre se mostrou ineficaz, muito longe de ser exemplo a ser seguido.
O Brasil, continuando seu capitalismo tardio*, planeja para 2015 a construção da Usina Angra 3 no Rio de Janeiro. Também se gaba de seu crescimento econômico e enche a boca pra dizer que o brasileiro anda consumindo mais, tanto que já está entre os campeões em vendas de celulares e carros. Surge para a competição capitalista num momento em que a preservação ambiental é fundamental na conservação das espécies. As florestas, cerrados, lençóis d'agua ainda são o resto de esperança em pró da natureza.
Estão todos cegos e loucos. O momento presente é histórico e aterrorizante.
* Eric Hobsbawm nasceu em 1917 em Alexandria no Egito, e desenvolveu seus estudos em Viena, Berlim, Londres e Cambridge. Fellow da British Academy e da American Academy of Arts and Sciences, professor visitante em diversas universidades da Europa e da América, lecionou até aposentar-se no Birkbeck College, da Universidade de Londres. Desde então ensina na New School for Social Research, em Nova York. Escreveu, entre outros, A Era do Capital, A Era dos Extremos, A Era das Revoluções, A Era dos Impérios, Os Bandidos, Da Revolução Industrial Inglesa ao Imperialismo, Rebeldes Primitivos, O Breve Século XX 1914-1991, e Ecos da Marselhesa, todos publicados no Brasil. ( Fonte: Histórianet - http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=160)
* MELLO, João Manoel Cardoso de. Capitalismo tardio: UNESP.2009
Capitalismo Tardio é uma obra do historiador João Manuel Cardoso de Mello, onde aborda justamente o fato de a América Latina ter iniciado sua economia própria bem depois dos paises europeus, caracterizando sempre uma dependência do êxito econômico europeu, para êxito econômico próprio, uma vez que necessita, pelo menos, de tecnologia externa para montagem do maquinário interno.
14 de mar. de 2011
A história da uva e o surgimento do vinho.
É impossível identificar a primeira ou exata região a cultivar uvas, os registros mais antigos datam de 7000 a. C. a 5000 a. C. em regiões da China, Irã e na Geórgia, levando a crer que foram as primeiras regiões a fabricar o vinho. Segundo alguns enólogos (cientista da uva e do vinho), o vinho surgiu por acaso possivelmente por um punhado de uvas amassadas e esquecidas que sofreram o processo de fermentação.
Os Fenícios, natos comerciantes, levaram o fruto a Grécia, que logo foi absorvida pela cultura, na mitologia grega incorporada em Baco ou Dionísio. Os Gregos levaram sementes de uva para várias de suas colônias, mas foram certamente os romanos os grandes responsáveis pelos inúmeros vinhedos espalhados pela Europa. Símbolo de conquista e poder, as parreiras eram plantadas nas entradas das terras conquistadas durante a expansão romana, o vinho era a bebida dos gladiadores em homenagens as suas vitórias, as folhas de parreiras usadas atrás das orelhas dos imperadores, enfim, totalmente inserida no dia a dia cultural desses povos.
Melhorando sua tecnologia, aprimorando o sabor quando colocados em barris de madeira, os romanos levaram o vinho para Grã- Bretanha, Germânia e França. A queda do Império Romano e as constantes invasões bárbaras diminuiu consideravelmente a produção de uvas, porém o poder simbólico e religioso do cristianismo trás consigo o ressurgimento do plantio de uvas. Importantíssimo e indispensável em celebrações cristãs, por representar o sangue de Cristo, o vinho era cultivado em grandes mosteiros, sendo muitos ainda ativos na Europa. O vinho era usado tanto dentro da igreja nas celebrações quanto para a venda externa para o povo. As Cruzadas religiosas e posteriormente as Grandes Navegações, possibilitaram o plantio do fruto e a produção do vinho em quase todos os lugares do mundo.
Os lugares onde os vinhos são mais famosos e caros são: França, Itália, Espanha e Portugal. Como passar por Portugal sem mencionar o delicioso Vinho do Porto.
Para se entender a produção de vinhos em Portugal é mais fácil dividindo o pais entre Norte e Sul. Ao Norte se produz o Vinho Verde, não necessariamente de uvas verdes, mas de uvas novas, garantindo a acidez do vinho. Ao Sul, ao longo do Rio Douro são cultivadas variedades de sementes de uvas, que pelo leito do Rio ser coberto por xistos as raízes das plantas têm que fazer um esforço muito maior para obter os nutrientes do solo, resultando assim num vinho bastante concentrado e rico. Permite-se até 48 variedades de uvas na fabricação do Vinho do Porto, mas seis são indispensáveis: Touriga Nacional, Tinta Cão, Tinta Roriz, Tinta Barroca, Touriga Francesa e Tinta Amarela.
Hoje é possível degustar excelentes vinhos nacionais vindos do Rio Grande do Sul. Rosé, doces, secos, tintos ou brancos a produção de vinho no Brasil cresce de forma bastante satisfatória. A nova onda do momento (uma onde burguesa, já que o vinho está muito popular) são os Vinhos de Garagem, onde uma pequena plantação de uvas cultivada numa pequena propriedade, resulta num vinho feito com as melhores uvas, selecionadas e separadas, vinho engarrafado de forma artesanal tendo sua venda a peso de ouro. Este será um tema que futuramente pretendo conhecer melhor.
9 de mar. de 2011
Escravidão, difícil digestão
Dando continuidade ao post anterior, fazendo uma análise histórica, este volta-se para a escravidão e o tráfico de escravos em solo brasileiro.
Quando chegaram os portugueses com a frota de Pedro Álvares Cabral, depararam-se com uma imensidão de terras, tantas que se perdia de vista. Os habitantes, índios, os receberam com total confiança. Simplesmente entraram na embarcação e deitaram no convés, cuidando apenas de não amassar as penas que enfeitavam seus corpos. Esta confiança foi um grande engano.
Apesar da imensidão de terras, nada de muito valor foi encontrado, a não ser o Pau- Brasil, árvore onde se extrai a tintas vermelha, muito usada na Europa. Os portugueses iniciam o processo de escravidão do índio com intuito de extrair mais árvores, uma vez que essas nascem em lugares diversos e só moradores da floresta podiam conhecer seus caminhos.
Os índios viviam num sistema de socialismo primitivo, onde o alimento preparado na hora serviria para todo o grupo. As mulheres se encarregavam de preparar o alimento, principalmente farinha de mandioca e todas da tribo cuidavam das crianças da tribo. Os homens caçavam animais na floresta ou peixes nos rios, tinham uma cultura própria, completamente diferente dos europeus. Aquela imposição ao trabalho forçado e acumulativo era uma grande incoerência, na visão indígena. Não compreendiam o motivo da acumulação de produtos, seja da floresta, seja de animais, não compreendiam a causa de um homem ter que trabalhar para outro homem, ou mulher. Que cultura "civilizada" era aquela?
Não é possível descolar os fatos do contexto histórico do momento, neste período acontecia a consolidação do Cristianismo pelo mundo, tanto que uma das primeiras providências chegando em terras novas, era rezar uma missa. Os Jesuítas eram os encarregados de arrebanhar novos fiéis. Suplantando por completo uma cultura milenar, os índios pouco a pouco foram sendo batizados e inseridos às regras da nova fé cristã.
Fazendo apenas um paralelo, por que não consigo ler certas coisas sem me posicionar (talvez um erro, ou não), mas até os dias atuais é possível sentir as atrocidades cometidas com a população indígena. A cultura morreu, acabou, não existe mais, são pouquíssimas tribos no Brasil ainda sem contato com os "povos civilizados". Segundo o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa (http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx), civilização significa " o progresso da humanidade em sua evolução social e intelectual". Reflito, evolução baseado em qual paralelo? A civilização em questão acha que domina os Oceanos, tira metais preciosos de outros lugares fora de seu domínio, assassinam em nome de um pensamento aparentemente religioso, ou seria o pensamento que leva ao poder e acumula riquezas? Os índios vivem em perfeita harmonia com a natureza, maior preocupação da atualidade, poucas tribos ainda podem viver em "paz" fugindo constantemente do contato com o branco. Quem é mais civilizado?
Doenças dos povos civilizados, como sarampo, varíola, gripe comum, dizimaram metade da população indígena.
O Pau Brasil era o único item que interessava, porém era muita terra, o que necessitava de muita mão de obra, daí voltou-se o olhar para a África. Na África era comum a venda de escravos capturados durante as lutas entre tribos. Os perdedores eram vendidos por negros de outras tribos. Digamos que Portugal exagerou na quantidade do pedido. Quando uma nova terra era colonizada por Portugal, logo se implantava uma Capitania hereditária com objetivo de controlar e não deixar nenhum outro pais se apoderar das novas terras. Portugal viu na África uma inesgotável fonte de recursos. Saiam de Angola cerca de 400, 500, 600 pessoas amontoadas no convés do temido Navio Negreiro (ui, até me arrepia), onde mais da metade morria durante o transporte.
Era uma viagem de aproximadamente 2 meses, sem água suficiente, sem alimento suficiente, sem lugares apropriados para suas necessidades fisiológicas. Muitos morriam pelo caminho, mães se atiravam ao mar com seus filhos evitando sofrimento maior.
Eram tantas mortes que muitos barcos ficavam abandonados por não haver ninguém para limpar as carniças. Marcados à ferro quente, os escravos eram tratados como cavalos. O açúcar era o produto mais consumido da Europa, além de adoçar, servia para mascarar o sabor da comida (não havia geladeira), e como produto medicinal, assim o surgimento de engenhos e a exportação de açúcar enriquecia e muito os novos usineiros. Ter uma usina de açúcar era equivalente a uma ou duas usinas petrolíferas. Era muito dinheiro. As pessoas que vieram eram em sua maioria jovens aventureiros, pessoas em busca de novidades e um futuro melhor. Pouquissimos vinham com família. As mulheres não vinham, assim, numa sociedade sem leis e sem valores familiares, a violência sexual com as escravas e índias tornava-se quase inevitável. Aqui não havia a separação de raças como na Europa o racismo científico, os ingleses também fornicavam , porém não assumiam seus filhos, ao contrário dos portugueses que assumiam a paternidade e davam direito de herança a eles. A sociedade, a cultura, o funcionamento do pais, tudo dependia dos escravos, eles eram carpinteiros, comerciantes, eles plantavam , colhiam, sem eles não haveria Brasil.
Evidentemente na crueldade em que viviam, haviam as resistências aos maus tratos. Quando isso acontecia, os escravos eram punidos em praça pública, como forma de exemplo aos que pensassem em se rebelar. Eram palmatórias, chicotadas, argolas no pescoço tudo com requintes de crueldade, colocavam-nos sentados em formigueiros a noite toda, ou amarrados pelos pés e mãos em troncos de madeira.
A escravidão tornou o homem um objeto, que se consome, troca, joga fora, comercializa, simplesmente um objeto. A expectativa de vida de um escravo era de apenas 8 anos. Quando comprava-se um escravo esperava-se que ele trabalhasse apenas um ano. Prejuízo ? Imagina, estes trabalhavam tanto neste ano que sua produção era muito maior que o dinheiro gasto em sua compra. Lembrando que para os portugueses a África era uma inesgotável fonte de recursos, inesgotável.
Em 1690 descobriu-se o ouro e a necessidade de mais escravos. Haviam os escravos tigres, que tinham esse nome por coletarem os excrementos de todos, deixados nas areias, carregando esses cestos na cabeça o líquido com o ácido dos excrementos escorriam por suas faces causando erupções da pele, sendo esses escravos mantidos em calabouços.
A igreja não se voltava contra ninguém, não apoiava a escravidão, porém nada fazia para impedi-la. Justificava dizendo que o importante é a vida no paraíso, que as privações desta vida seriam compensadas após a morte, que na verdade o corpo era escravo, mas a alma era livre.
Os senhores de engenho eram terríveis. Havia o Senhor Cajaíba da região de Santo Amaro que era conhecido por sua maldade. Colocou espelhos em lugares estratégicos de sua fazenda, onde de sua sala podia ver tudo que acontecia ao redor, desde os outros quartos até as terras trabalhadas por escravos na parte externa da casa. Conta-se que numa certa ocasião tendo suas terras visitadas por um amigo, no jantar este amigo elogiou os seios da escrava que os serviu. No final da noite ao se despedir para ir embora para casa, este convidado foi presenteado pelo Sr. Cajaíba, com os seios da escrava servidos numa bandeja.
Os senhores de engenho temiam demais por suas vidas. Era uma relação tensa, sabiam que podiam ser envenenados ou mortos durante a noite. Temiam também aos rituais religiosos. Os escravos rebelados fugiam para Quilombos, onde o mais famoso foi o de Palmares em Pernambuco, morada de Zumbi dos Palmares.
Conhecendo a floresta como ninguém, os escravos fugidos dificilmente eram capturados, a polícia não tinha preparo pra se embrenhar no mato, daí surge a figura do feitor, negro perseguidor de escravos, conhecedor da floresta como os outros, homem de confiança do dono da fazenda. A Capoeira, como qualquer outra luta, era proibida, porém, foi justificada como dança pra se livrar da proibição. Chegou a ser proibida no Recife e outras regiões, podendo o infrator levar até 25 chibatadas pelo ato. Os rituais religiosos eram muito temido pelos senhores das terras; o canto, a dança, as mulheres dominadas por espíritos ao som dos atabaques, petrificava os patrões de medo. Em 1800 dá-se inicio o plantio do café. Em 1841 um acordo entre Inglaterra, França, Rússia, Prússia e Áustria firmam um acordo para reprimir o tráfico de escravos.
Noutro paralelo pensemos que o capitalismo, neste período, está ganhando força e escravidão não combina com comércio. Quem trabalha ganhando dinheiro têm dinheiro pra gastar, negro, índio, seja o que for. O dono do dinheiro não têm cor, tem valor econômico. Neste pensamento capitalista escravidão não tem espaço.
Sempre naveguei na idéia de que o que muda a sociedade é uma dialética materialista de Marx ou a mudança de pensamentos da Escola dos Annales. Chego a conclusão que um não dissocia do outro. Estendendo o pensamento que apesar de se posicionar contra a escravidão, esses paises e outros tantos consumiam, e muito, açúcar em seu cotidiano. Era a coqueluche do momento. Fica mais ou menos assim: sou contra a forma como trabalha, mesmo assim consumo seu produto induzindo você a produzir mais, de forma errada, mas desde que não falte pra mim.
Em 1888 a princesa Isabel assina a Lei Áurea. Escravos libertos, sem ter pra onde ir, pois niguém foi ressarcido por anos de trabalho forçado, muito pelo contrário, usados até onde foi conveniente quando não mais serviam foram empurrados para a periferia das cidades (futuras favelas) e tendo seus serviços trocados por mão de obra estrangeira, pois esses eram mais competentes (racismo científico) para as lavouras voltadas à exportação.
Desejo que este triste episódio de nossa história sirva como texto de reflexão que somos frutos de maus tratos, de uma miscigenação forçada e promíscua, onde muitos de nossos antepassados foram mortos de forma brutal e animalesca em nome do crescimento econômico de uma civilização pouco civilizada, que nunca pensou numa Nação, mas sim num imenso fornecedor de matéria prima e humana. A "civilização" européia trouxe doenças, desigualdades, destruições culturais irreversíveis, haja vista os Incas, Astecas e índios de várias tribos brasileiras viciados em álcool. No interior paulista tem reservas indígenas e eles vivem na cidade pedindo para alguém lhes pagar bebidas. Triste demais. Que esta postagem traga a reflexão que nós, afro-descendentes temos obrigação moral de conquistar nosso lugar ao sol, sem ter pena de si mesmo, mas olhando o futuro com objetivo, coragem e a certeza de que "sim, nós podemos". Consciência do que fomos e do que podemos ser.
Yes, we can!
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