5 de jun. de 2011

Bullying, doença contemporânea

Certo dia, assistindo ao Jornal Hoje que noticiava o triste episódio do atirador na escola de Realengo, onde todos se lembram do doidão dando tiros em crianças, parei por alguns minutos pra refletir na indagação da jornalista Sandra Annemberg a um psicólogo dizendo: "Por que esse aumento no bullying, o que está acontecendo?". Apertei a tecla pause do meu cérebro e comecei a pensar. 
Segundo o Dicionário Priberan da Língua Portuguesa, Bullying é o conjunto de maus tratos, ameaças, coações e outros atos de intimidação física ou psicológica exercido de forma continuada sobre uma pessoa considerada mais fraca ou vulnerável


Mas, "fraca" e "vulnerável" a que? Usando qual paralelo de supremacia? Econômica, social, étnica, religiosa, ou todas? Há indícios que sejam todos esses fatores juntos e separados, na medida em que cada grupo se representa, mas se unem num objetivo final de fortalecimento no status quo.  Estranha-se o outro que está fora dos padrões culturais considerado aceitável pela sociedade daquele local.

No caso do Ocidente, o capital rege a sociedade. São, literalmente, indústrias voltadas à uma postura cultural direcionando toda uma Nação a este amplo universo, na maioria das vezes, com intuito de receber regalias que resultarão em ganhos financeiros. Difundir essa cultura para um maior números de pessoas possíveis acaba sendo o papel da mídia, em raríssimos casos, imparcial. Indiscutivelmente, a televisão atinge um número gigantesco de pessoas. Por seu intermédio é possível saber a última tendência da moda, da arquitetura, dos filmes considerados bons, novas tecnologias e principalmente notícias que interessam a população (escolhidas à dedo e muitas vezes editada). É uma doutrina injetada lentamente, todos os dias, sem percebermos. Fora desses padrões, considerados aceitáveis pela maioria, o sujeito é estranho. E ser estranho é não se parecer com aquelas pessoas da TV ou não consumir os mesmos produtos tecnológicos que a maioria consome. Estar em redes sociais é quase uma obrigação. Mas tem gente que não gosta de nada disso.
O bullying começa na infância, período em que a criança passa por uma fase de reconhecimento na sociedade em que está inserida, e em geral na escola, seja pelo óculos, seja por ser baixinho ou narigudo, pelos cabelos, religião, etnia, enfim, uma pseudo - diferença que exclui e rechaça o outro.
Mas qual parâmetro para classificar o outro? Baseado em qual? Voltamos as indústrias culturais que promovem cultura usando a mídia como ponte de acesso. Insere-se o fetiche do consumo, a necessidade de consumir todas as atualidades que as propagandas jorram, por minuto, em nossas caras. A escolha do não consumo (por opção ou falta de verba para tal) tem um preço alto, as massas não aceitam e as crianças, cruéis em sua sinceridade e já corrompidas pelo sistema capitalista, ridicularizam quem não acompanha esse ritmo dinâmico. Surge o bullying que vai crescendo na vítima de forma silenciosa, refletida na pessoa adulta como timidez, de pessoa calada mas revoltada contra o sistema da qual faz parte, mesmo excluído. O bullying tem raízes muito mais profundas do que um simplesmente "você é beiçudo". Claro que indivíduos loucos são loucos, não há coerência em seus atos, mas o bullying acentua uma revolta que só tende a crescer. Como minimizar? Não sei. Vejo apenas o capital atropelando tudo pela frente.  

2 comentários:

Unknown disse...

Olá, fico feliz por estar sempre em meu espaço!
Já fiz algumas matérias sobre esse tema e foi bem sucedido nos comentários. Espero que também tenha, é matéria viva e relevante em toda a blogosfera.
Abraço

Ana Paula disse...

Lucidreira, acho também este tema relevante. Faz parte das muitas doenças contemporâneas desencadeadas pelo capital desde a Revolução Industrial. É uma honra saber que pessoas com seu gabarito são leitores do meu blog. Seja muito bem vindo e volte sempre.