Filme que mostra chacina de mendigos é boicotado pela crítica.
por Fausto Barreira
Baseado em fatos reais, o filme desvenda um fato pouco conhecido: a “Operação mata-mendigos”, que ocorreu no RJ entre 1962 e 1963. O filme, muito atual, mostra o governo, a imprensa e interesses imobiliários por trás dos assassinatos dos moradores de rua. Como se vê, a política de “higienização” das grandes cidades é antiga.
Assisti numa sala pequena, no único horário da tarde, ao filme “Topografia de um Desnudo”. O filme dirigido por Teresa Aguiar baseia-se numa peça de teatro do chileno Jorge Díaz e não teve nenhuma menção de críticos na grande imprensa. Trata-se da adaptação de uma peça de teatro e versa sobre o massacre de moradores de rua no governo de Carlos Lacerda (um dos líderes civis do golpe de 1964) entre os anos de 1962 e 1963.
Teresa Aguiar é diretora de teatro em Campinas. No final da década de 1970, assistiu a uma peça, em um festival universitário da Colômbia. Há vinte anos ela resolveu transformar a ideia da peça em um projeto de cinema e hoje, aos quase setenta anos, apresenta seu primeiro longa metragem: “Topografia de um Desnudo”.
Rio de Janeiro, anos 1960. A cidade se prepara para receber a visita da rainha Elizabeth. Num clima de tensão social e política que antecede o golpe militar, uma jornalista investiga a morte de moradores de rua e se envolve num perigoso jogo de interesses. Baseado em fatos reais, desvenda um lado pouco conhecido da História: a “Operação mata-mendigos” que ocorreu no Rio de Janeiro entre 1962 e 1963 e um dos motivos era a necessidade de “limpar” a cidade para a visita da rainha.
No filme, a diretora expõe o intrincado jogo do governo do estado da Guanabara, de setores da imprensa e de especuladores imobiliários interessados em um grande empreendimento num lixão onde habitavam moradores de rua. Intercalando cenas realistas com imagens oníricas, Teresa Aguiar conseguiu criar um painel convincente das articulações e dos crimes da elite carioca, ao mesmo tempo em que soube dar muita humanidade aos personagens dos moradores de rua.
Com atores importantes como Lima Duarte, Gracindo Júnior e José de Abreu o filme foi massacrado. Segundo um dos poucos espectadores presentes na plateia, o qual participou das filmagens há alguns anos, o filme, nessa época, já estava sendo feito há dez anos e não conseguia nenhum patrocínio, apesar de ter sido aprovado pela Lei Rouanet. Vê-se por aí como funciona a censura do capital.
O filme é atualíssimo, pois mostra a gênese dos programas de “higienização” das grandes cidades brasileiras, que têm como expoentes Gilberto Kassab em São Paulo e Eduardo Paes no Rio de Janeiro, nos quais as populações pobres são expulsas de locais que interessam aos planos de “revitalização”, ou seja, à especulação imobiliária.
Sabe-se também que por trás do mensalão do DEM do Distrito Federal está o vice-governador, Paulo Otávio, dono do jornal Correio Brasiliense e da maior construtora de Brasília.
Pode-se assistir ao trailler do filme no YouTube.
2 comentários:
Este filme é realmente um grito de alerta. Que nos faz pensar, pelo menos num instante, nestes irmãos menos favorecidos. A sociedade como um todo, insiste em marginalizá-los, pois é muito mais fácil dar as costas ao problema do que enfrentá-lo. São projetos como este que podem plantar uma sementinha no coração de cada um, fazendo com que tenhamos consciência, e façamos alguma coisa por estes infelizes... Nem que seja gritar, para que nossos político coloque em seu planos de governo, algo verdadeiramente serio em prol dos moradores de rua. "MAS PRA QUE OS POLÍTICOS VÃO PENSAR NISSO EM SUAS CAMPANHAS DE GOVERNO??? MORADOR DE RUA NÃO VOTA, NÃO É???"
Participei deste projeto desde a sua idealização, até o processo de montagem....fiz figuração e assinei cabelo e maquiagem. E infelizmente vejo que estamos (como os corpos dos mendigos mortos, desde 1960 até os dias de hoje), caidos no "Rio" do esquecimento... e sob as marquises do descaso....
Luis, reflexo do próprio descaso, a maioria da população sequer imagina que tais coisas aconteçam, e quando sabem se escandalizam. Lembro na déc. de 90, quando o Prefeito da cidade de Santos, Beto Mansur enchia peruas com moradores de rua despejando-os na cidade de São Paulo.
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