Quem, nos dias atuais, não sente tristeza. Quantas vezes sentimos aquela dor aguda, que parece vir de dentro do peito. Um sentimento de derrota, vontade de sumir, chorar, acabar com a própria vida. Pode ser uma promoção que não veio, um candidato à grande amor perdido, uma pressão psicológica muito grande que muda nosso semblante e curva nossas costas. As vezes isto acontece. É normal. Assim como a alegria, a euforia e a vontade de gargalhar, o choro e a tristeza fazem parte da condição humana. A coisa pega quando ressignificada.
Ocorre que a representação social, que é uma construção ideológica do real, melhor amiga do capitalismo, representada por detentores dos meios de produção, também interferem diretamente na saúde pública.
Hoje qualquer tristeza é diagnosticada como depressão "necessitando de uma maior interferência médica e medicamentos específicos.Por mais absurdo que possa parecer a grande maioria dos médicos desconhecem quando há real necessidade de anti-depressivos. Por outro lado o próprio paciente quer ser diagnosticado como depressivo. A vulgarização da doença e a promessa de uma pílula da felicidade, a possibilidade de não mais sentir tristeza, tudo contribuiu para o aumento do número de depressivos no Brasil.
Não há dúvida que a depressão existe e aumenta, mas o diagnóstico é muito maior do que a realidade.
A tristeza pode até durar alguns dias, alguns meses em certos casos, mas vai diminuindo e passa. A depressão é mais profunda, o doente não reage no decorrer do tempo, pelo contrário, piora e somente com a intervenção de medicamentos e acompanhamento médico é que se obtém a melhora. Um é diferente do outro. Correndo por fora há os laboratórios farmacêuticos que proporcionam muitos benefícios aos médicos. Pagam passagens, almoço, brindes, big cestas de fim de ano e o médico, meio que sem querer querendo, começa a fazer o jogo receitando o que eles querem. O suborno é subliminar. Assim se o paciente chega ao consultório se queixando de insônia, o médico que deveria indicar métodos alternativos de relaxamento, acaba por receitar um medicamento. É mais fácil tanto para o médico quanto para o paciente. "Os psiquiatras, completamente aptos a ministrarem tal medicamento são os que menos prescrevem. Eles buscam a causa original da tristeza, que nos casos de verdadeira depressão geralmente têm raízes na infância. Mas mexer na infância é muito doloroso. Não têm remédio para isso. Precisa de terapia, de análise, mas as pessoas não querem fazer, não querem mexer nas feridas" (Miguel Chalub - Psiquiatra Prof. UFRJ e UERJ).
O desamparo e isolamento crescente e muito rápido é resultado da dinâmica do cotidiano e a falta de tempo para adaptação do novo.
O que fazer, jogar tudo pro alto e ir morar na Jamaica queimando erva o dia todo? Não. É aprender a lidar com sentimentos ruins também. São inerentes à condição humana. É aprender a enfrentar os problemas ciente de que vai passar.
Nas asas do tempo, a tristeza voa. (Jean de La Fontaine)